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quarta-feira, 31 de março de 2010

O Meu Artesanato

A alegria que se tem em pensar e aprender faz-nos pensar e aprender ainda mais.
(Autor: Aristóteles)



Mais uma vez, dois dos meus trabalhos bordados  foram publicados numa das revistas do mês de Março, da Editorial Nascimento a Ponto de Cruz&Novidades
Nesta revista  saíram os seguintes trabalhos:
. Um paninho bordado  em ponto estrelado,  que pode servir de individual numa pequena refeição ou para colocar num tabuleiro. 



. Uma pequena toalhinha bordada em ponto de cruz, que já publiquei aqui, em Janeiro, mas que só agora saiu na revista.


De seguida,  junto o esquema para quem quiser aproveitar.




Obrigada pela sua visita. Volte sempre.

terça-feira, 30 de março de 2010

Histórias da Serra

Só pelo amor o homem se realiza plenamente.
(Platão)

A menina crescera  e tornara-se numa bonita rapariga. O irmão, depois de cumprir o serviço militar, ficara junto do pai que trabalhavana indústria corticeira, no Seixal. Da  sua família já só as mulheres permaneciam na aldeia e, tal como as irmãs mais velhas, sentiu a necessidade de fazer o seu enxoval. Como o dinheiro escasseava, começou "a andar aos dias de ajuda" para outros lavradores  ou a carregar materiais para casas em construção. Já mais velhinha,  foi  trabalhar com as outras  raparigas da aldeia  para um resineiro duma povoação próxima.
Certa tarde de Verão, após o trabalho, regressava ela na companhia das amigas, conversando animadamente. Por entre os raios avermelhados dum esplêndido pôr do  sol que encandeava a sua visão, conseguiu vislumbrar a silhueta dum esbelto rapaz, dono duns lindos  e penetrantes olhos azuis que se cruzaram com os seus. Atrapalhada, escondeu-se no meio das outras, levando consigo a lembrança daquele belo e atrevido olhar.
Chegara o fim de semana e, como de costume, os jovens juntavam-se e  faziam grandes bailaricos, que traziam à povoação muitos rapazes da vizinhança.
Estava ela na conversa com as amigas da sua idade, quando se apercebeu da chegada de dois. Um trazia uma concertina às costas e já era vulgar aparecer na aldeia; o outro era o dono daqueles olhos azuis que tanto a tinham marcado dias antes.  Naquele momento, sentiu que tudo  desaparecia à sua volta. Deixou de ouvir as amigas que falavam, deixou de ouvir a música que o tio Inocêncio tocava e, de novo, aqueles olhos fixaram os seus. Incrédula e envergonhada, corou e baixou o rosto escondendo o rubor que a atraiçoava e só o levantou,  quando ouviu,  atrás de si, uma voz doce que perguntava:
- A menina dança?



Obrigada pela sua visita. Volte sempre.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Esclarecimento aos Seguidores

A adversidade desperta em nós capacidades que, em circunstâncias favoráveis, teriam ficado adormecidas.
(Horácio)
 
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Não sei que se passou  com O Açor.
Há pouco, quando vim escrever o post de hoje, verifiquei que algums fotografias desapareceram.
Estou a tentar descobrir o que se passa, mas percebo pouco destas coisas e não sei se vou conseguir.
Peço desculpa pelo sucedido, mas sou completamete alheia ao que se está a passar.
Voltarei assim que tudo esteja a funcionar normalmente

Obrigada pela sua visita. Espero voltar em breve.

domingo, 28 de março de 2010

Domingo de Ramos na Minha Aldeia

Viva a tua fé. Cristo não é uma figura que passou. Não é uma recordação que se perde na História. Vive! Jesus Christus heri et hodie: ipse et in saecula! diz São Paulo. Jesus Cristo ontem e hoje e sempre!
( Josemaría Escrivá )



Hoje é Domingo de Ramos, data muito importante no calendário litúrgico, em que se comemora  a entrada triunfal de Cristo em Jerusalém e o  início da Semana Santa.
Neste dia os católicos levam para a Missa um ramo para ser abençoadao pelo sacerdote. O ramo é formado por algumas espécies vegetais e varia muito de região para região.
Na minha aldeia, este acto religioso realizou-se no Sábado, pois o padre tem várias freguesias a seu cargo e não pode estar presente em todas no Domingo.
Neste dia,  os seus habitantes costumam cortar  pernadas de loureiro e  de alecrim.Depois de escolherem as mais bonitas compôem um ramo e juntam-se  no Largo de S. Domingos, onde aguardam a chegada do senhor Prior.



Este  procede então à  cerimónia da benção dos ramos.



De seguida, os crentes formam-se em Procissão e seguem para a Capela, onde  assistem à Santa  Missa.



Após a Missa, o ramo é guardado em casa até ao dia 3 de Maio. Neste dia, conhecido por dia de Santa Cruz, cada família separa as pernadas que constituem o seu ramo e formam com elas um cruz. A cruz é então levada para a  fazenda, e colocada num local de onde se avistem a maioria  dos terrenos de cultivo. Este acto é acompanhado por uma reza e tem por finalidade proteger as colheitas.
Esta é mais uma tradição que ainda se mantém no Sobral Magro e que, a Ana Teresa ilustrou com as fotos do passado Sábado.



Obrigada pela sua visita. Volte sempre.

Poesia Num Lindo Dia de Primavera

Do mesmo modo que no início da primavera todas as folhas têm a mesma cor e quase a mesma forma, nós também, na nossa tenra infância, somos todos semelhantes e, portanto, perfeitamente harmonizados.
(Arthur Schopenhauer)
Finalmente o fim de semana está agradável e convidativo para se ir para o jardim.
Com a Leonor cá em casa, aproveitámos o lindo Sábado para ela brincar ao ar livre enquanto eu tratava das plantinhas tão mal tratadas que foram pela intempérie.



As fotos seguintes dão uma imagem da Primavera que está a chegar em toda a sua plenitude à minha casa e ao ambiente que a rodeia. E, como a Primavera é uma fonte de inspiração para os poetas, fica também um lindo soneto de Olavo Bilac.




Primavera

Ah! quem nos dera que isto, como outrora,
Inda nos comovesse! Ah! quem nos dera
Que inda juntos pudéssemos agora
Ver o desabrochar da primavera!

Saíamos com os pássaros e a aurora.
E, no chão, sobre os troncos cheios de hera,
Sentavas-te sorrindo, de hora em hora:
"Beijemo-nos! amemo-nos! espera!"

E esse corpo de rosa recendia,
E aos meus beijos de fogo palpitava,
Alquebrado de amor e de cansaço.

A alma da terra gorjeava e ria...
Nascia a primavera... E eu te levava,
Primavera de carne, pelo braço!

Olavo Bilac, in "Poesias"


Obrigada pela sua visita. Volte sempre.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Acidente no Sobral Magro

Os golpes da adversidade são terrivelmente amargos, mas nunca estéreis.
(Renan)



Durante a tarde de hoje, aconteceu um acidente em Sobral Magro, que poderia ter tido consequências muito graves. Na alura a D. Matilde, uma residente na localidade, passava no Largo da Barroca, junto à fonte, quando o terreno cedeu e ela se afundou no buraco que se formou.



Ao fim de algum tempo de angústia, foi socorrida pelos operários que trabalhavam numa obra e que lhe colocaram uma escada por onde ela subiu.  Por sorte, naquele local da barroca havia um grande monte de cascalho, em cima do qual ela caiu. Caso não existisse oa queda seria muito mais desastrosa.
Deste acidente resultaram alguns ferimentos na cabeça e nos braços da D. Matilde e um grande susto.
De imediato, foi chamado  o Sr. Presidente da Junta de Freguesia de Pomares, que se inteirou dos estragos e isolou  aquele caminho para que mais ninguém caia no local, até se arranjar solução para o assunto.



De realçar que este largo foi construído há mais de cem anos, sobre a barroca que lhe dá o nome. Nessa altura ainda não havia estrada na povoação, nem se pensava em  veículos automóveis. 
Com a chegada da estrada, os naturais da aldeia teimam em fazer deste largo, local de estacionamento, apesar de haver um largo com condições de segurança para o fazer. Talvez por isso e por termos atravessado um  Inverno fora do normal, o terreno tenha cedido. Só temos que dar graças a Deus por o acidente não ter tido repercursões mais graves e tirar deste acontecimento as devidas ilacções.


Fotos: Ana Teresa

Obrigada pela sua visita. Volte sempre.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Almoço de Aniversário da C.M. Sobral Magro

Nossas acções mais recentes sempre revelam nosso passado.
 (Publílio Siro)

No pasado dia 14 de Março a Comissão de Melhoramentos de Sobral Magro fez 58 anos de existência e, na altura, informei que a Direcção da colectividade estava a organizar um almoço comemorativo da data.
Neste momento, já me é possível dar as informações que não tinha  na altura.


                                      


O almoço realizar-se -à no próximo dia 25 de Abril, às 12 h na Quinta dos Girassóis, em Fernão Ferro e a Ementa é a seguinte:
Entradas

Presunto fatiado,
Paio fatiado,
Cubinhos de queijo,
Rissóis de camarão,
Bolinhas de bacalhau,
Rissóis de carne,
Bolinhas de carne,

Moscatel, Martini rosso, Martini bianco, Gin,
Gin Tónico, Água Mineral, Refrigerantes

Pratos Quentes

Creme de Legumes
Arroz de Tamboril com Gambas
Vitela assada com champignons
Sobremesa
Salada de Fruta ou Arroz Doce

Bebidas
Vinho de Pegões, Água mineral, Refrigerante,
Cerveja com e sem Alcool
Café
Digestivo (Whisky novo, Licor Beirão, Licor de Whisky, Bagaceira)

Bolo de Aniversário

O preço será de  22 € por pessoa e as marcações poderão ser feitas para:

Sr. João: 218862746;
Agostinho: 936186060
Maria de Lourdes: 964446419

Para uma melhor localização da Quinta dos Girassóis, fica o esquema seguinte:




Obrigada pela sua visita. Volte sempre.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Histórias da Serra V

A vida ou é uma aventura ousada ou não é nada.
(Hellen Keller)




Aquele miúdo franzino que chegara três anos antes a Lisboa, transformaram-se num esbelto rapaz. Alto, elegante, com uns expressivos olhos azuis acinzentados, não deixavam indiferentes as meninas que frequentavam a pastelaria onde trabalhava.  Esforçava-se por aprender e tornou-se num bom profissional , ganhou segurança e fez alguns amigos que o desafiaram para formar uma firma onde trabalhasse por conta própria, pois era notório o seu  jeito para o negócio.
Com a cabeça cheia de ilusões, trocava impressões com o tio que visitava sempre que tinha uma folga. No entanto, ele aconselhava-o a ter calma, pois era ainda muito novo para enfrentar o mundo dos negócios, mas reconhecia-lhe e elogiava-lhe as suas qualidades de trabalho e de ambição, dando-lhe a confiança de que um dia iria ser alguém...
Durante estes três anos não esquecera a sua aldeia e onde se deslocava sempre que havia festa.
Nessas alturas, matava saudades  da  família que lá continuava a viver, ajudava a mãe e percorria as festas da região com os outros rapazes, entre os quais o primo que tocava concertina e era muito bem recebido nas aldeias vizinhas.
Certo dia, ao entardecer, chegava com o primo da fazenda, envolto nos seus pensamentos. De repente,  foi chamado à realidade pelas conversas e risos dum rancho  que, ao fim de um dia de trabalho, se cruzaram com eles. Eram raparigas bonitas e vistosas de faces rosadas, que de sorriso rasgado conversavam animadas enquanto seguiam o seu caminho. O seu olhar pousou no de uma jovenzinha que seguia entre elas. Não seria a mais bonita, nem sequer a mais jeitosa, mas foi ela quem mais o atraiu.
Logo o primo lhe disse que eram raparigas que trabalhavam na colheita da resina e eram duma outra aldeia, onde ele costumava ir aos bailes.
Nessa noite custou a adormecer e, quando o conseguiu fazer sonhou. Os seus sonhos foram preenchidos pela imagem daquela jovem tímida, de belas tranças enroladas num carrapito, e de grandes olhos negros emoldurando a bonita face que corou envergonhada, quando os seus olhares se cruzaram.
E, a partir de então, foi essa imagem que passou a dominar os seus sonhos.








Obrigada pela sua visita. Volte sempre.

terça-feira, 23 de março de 2010

Freguesia Mais Pobre

A morte  ensina-nos  a transitoriedade de todas as coisas.
 ( Leo Buscaglia)





A nossa freguesia continua a diminuir, pois faleceu hoje,  a D. Palmira Fernandes Dinis. O seu funeral realizar-se-à amanhã, às 11 horas para o cemitério de Pomares.
Era casada com o Sr. António dos Santos Dinis, sobejamente conhecido em todo o concelho  de Arganil e era mãe do  meu primo  (por casamento) Aurélio e do  do Sr. Amândio, actual Presidente da Junta de Freguesia de Pomares, a  quem endereço as minhas sentidas condolências, extensivas à restante família.



Esta é uma fotografia que tirei , no passado ano, no Centro de Dia de Pomares onde, esta senhora  passava o dia em convívio com outros conterrâneos.  Na altura, fiquei bastante admirada e congratulei-me por, apesar dos seus 88 anos e dos graves problemas de saúde que a acometiam, ainda fazia renda.
Para a D. Palmira, vão os meus votos de que Deus a receba junto de Si e que  a sua alma descanse em paz.





Obrigada pela sua visita. Volte sempre.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Pesca na Ribeira

Falamos de matar o tempo como se, infelizmente, não fosse o tempo que nos matasse.
(Alphonse Allais)



Quando chegava o Verão, na minha aldeia havia um passatempo que "os lisboetas" gostavam de praticar: a pesca.
Todos sabiam que era ilegal o que faziam, mas de vez em quando lá ia um grupo a caminho da ribeira. Percorriam-na, tentando apanhar  trutas ou enguias que, naquela época, abundavam na ribeira do Sobral. O meu tio António era exímio a apanhar  enguias e eu gostava de o acompanhar, mas curiosa  como sou,  andava sempre atrás dele  a fazer perguntas.
Ele usava uma espécie de garfo e, pacientemente levantava as pedras uma a uma, para ver se saía algum peixe debaixo duma delas. Certo dia, assustei-me ao ver sair uma enguia debaixo duma das pedras. Pensando  que era uma cobra comecei aos gritos  e desatei a correr, chapinhando e fazendo levantar a terra pousada no fundo  da ribeira, que de imediato  turvou a água, espantando os peixes.
A partir de então o meu tio nunca mais me quis por perto  quando andava à pesca.



Muitas vezes, acabada a pescaria era em casa da minha tia Ilda que se fazia o petisco. Esta minha tia tinha "mão" para cozinhar as trutas e as enguias e todos gabavam o sabor  apetitoso que ela conseguia, no molho que fazia para os acompanhar.
Não sei de que forma a tia Ilda  cozinhava os peixes. Sei apenas que os fritava em azeite e no molho com que os cobria,  usava vários  ingredientes como o vinagre, alho e  louro e que todos os que provavam esta iguaria, não se cansavam de elogiar os dotes da cozinheira.


Obrigada pela sua visita. Volte sempre.


domingo, 21 de março de 2010

Dia Mundial Da Poesia e da Floresta

Somente quando for cortada a última árvore, pescado o último peixe, poluído o último rio, que as pessoas vão perceber que não podem comer dinheiro.
(Autor Desconhecido)



                                              

No Dia Mundial da Poesia e da Floresta, o meu post tem que ser dedicado a estes dois temas. Desta vez, a poesia é da autoria de  Florbela Espanca.

Árvores do Alentejo

 
Horas mortas... Curvada aos pés do Monte
A planície é um brasido e, torturadas,
As árvores sangrentas, revoltadas,
Gritam a Deus a benção duma fonte!

 

E quando, manhã alta, o sol posponte
A oiro a giesta, a arder, pelas estradas,
Esfíngicas, recortam desgrenhadas
Os trágicos perfis no horizonte!

Árvores! Corações, almas que choram,
Almas iguais à minha, almas que imploram
Em vão remédio para tanta mágoa!
Árvores! Não choreis! Olhai e vede:
--- Também ando a gritar, morta de sede,
Pedindo a Deus a minha gota de água!
Florbela Espanca

 
 

 

Obrigada pela sua visita. Volte sempre.





sábado, 20 de março de 2010

Vamos Limpar Portugal

Ambiente limpo não é o que mais se limpa e sim o que menos se suja.
(Chico Xavier)






A Primavera chegou!
Mas chegou chorando de vergonha pelo seu primeiro dia tão pouco primaveril. Ainda por cima, hoje o dia "marcado" para limpar o país, tal como já tinha sido mencionado aqui .





O mínimo que desejaríamos era que não chovesse, mas tal não aconteceu. Valha-nos que, neste momento, não chove apesar de as nuvens pairarem ameaçadoras sobre a minha localidade. Fica a esperança para que se mantenha, pelo menos assim ao longo do dia.

Os habitantes de Fernão Ferro estão no terreno e, na  região da minha aldeia,   a Junta de Freguesia também se envolveu neste movimento.
Esta campanha que decorre a nível nacional é bastante meritória e foi muito bem acolhida por todos. Esperemos que o espírito que nos faz movimentar no dia de hoje, não fique por aqui e se prolongue pelo ano inteiro. Há que despertar  consciências para a necesidade de se fazer algo para manter o ambiente que nos rodeia e nos dá vida,  limpo e saudável. O primeiro passo seria educar as pessoas para colocarem os lixos nos locais próprios e assim não fossem  necessárias campanhas deste género. Mas já que chegámos a esta situação,

Vamos Limpar Portugal!

Obrigada pela sua visita. Volte sempre.





sexta-feira, 19 de março de 2010

A Aldeia do Meu Pai IV - Dia do Pai

Os nossos pais amam-nos porque somos seus filhos, é um fato inalterável. Nos momentos de sucesso, isso pode parecer irrelevante, mas nas ocasiões de fracasso, oferecem um consolo e uma segurança que não se encontram em qualquer outro lugar.
( Bertrand Russell )





Presente:
Foi muito difícil e prolongada  a luta dos habitantes de Sobral Gordo por melhores condições de vida e, a maior parte acabou por criar raízes na região metropolitana de Lisboa. Embora as férias e tempos livres fossem passados no Sobral Gordo,  os habitantes permanentes diminuiram substancialmente e, actualmente são muito poucos os que lá residem. No entanto, mesmo passando a maior parte do ano longe da sua aldeia, o povo sobralgordense não desiste de recordar e evidenciar orgulhosamente a história de vida dos seus antepassados.
Para isso, continuam a realizar a sua festa anual na aldeia, onde os momentos altos são a parte religiosa com a Missa e Procissão e a parte profana com os bailaricos e o piquenique na Eira Fundeira; organizam anualmente, no mês de Junho, um piquenique em Almada, onde matam saudades numa agradável confraternização e, no mês de Novembro, realizam uma excursão ao Sobral Gordo, onde fazem o seu convívio de S. Martinho.
Para manter ainda mais vivas as tradições da sua terra, criaram um grupo etnográfico onde tentam manter na memória e divulgar os usos e costumes da aldeia que os viu nascer, organizando vários eventos ao longo do ano.


- Grupo Etnográfico Raízes do Sobral Gordo-
(Foto: G.E.R. Sobral Gordo)

Foi nesta aldeia, vivendo a realidade duma região pobre, com estas pessoas, que o meu pai cresceu e se fez homem. Foi com eles que aprendeu que só aliando a inconformação, alguma ambição e muito espírito de sacrifício se consegue uma vida melhor.
Após o casamento, o meu pai foi adoptado pela terra da minha mãe,  uma aldeia vizinha com uma história muito semelhante. Durante muitos anos liderou a Comissão de Melhoramentos de Sobral Magro e eu  cresci  acompanhando as suas lutas. Foi dele e da minha mãe que recebi o amor à região serrana, a instrução e  educação. Foram os valores  que  me passaram que  fizeram de mim a pessoa que hoje sou  e é  o seu   exemplo  que tento passar também aos meus filhos...
Obrigada Pai!

Concluo, hoje, uma das homenagens que resolvi fazer ao meu pai na internet, contando um pouco da história da sua terra, durante a semana em que se comemora, em Portugal, o Dia do Pai. No entanto, essa homenagem vai continuar presente, por algum tempo num dos  capítulos deste blogue que intitulei de Histórias de Vida e  onde ele é a fonte de inspiração das postagens.

E, como é comum dizer-se e eu sinto mesmo Dia do pai são todos os dias do ano.



Obrigada pela sua visita. Volte sempre.

quinta-feira, 18 de março de 2010

A Aldeia do Meu Pai III

É triste falhar na vida, porém mais triste ainda é não tentar vencer.
(Franklin Roosevelt)

Passado:

No Sobral Gordo um grupo de homens, inconformados com a isolação em que se encontravam, iniciou a construção de  um caminho mais largo por onde pudesse passar um carro de bois e possibilitasse o transporte  mais fácil de grandes "carregos". O mesmo grupo de homens continuou a liderar as obras necessárias a melhorar a vida  na povoação e, a água era uma das necessidades mais prementes. Não tiveram muito êxito neste assunto, mas construiram tanques que vieram facilitar o trabalho das mulheres.
Entretanto,  na primeira metade do século passado, gerou-se em Lisboa um movimento associativo  dos naturais das aldeias beirãs, tão abandonadas pelo Poder Central, cujo objectivo principal era  melhorar as condições de vida nas suas povoações. Nasceram as Ligas, Uniões, Comissões e Associações de Melhoramentos e, com a sua dinâmica, contribuição financeira , organização de festas e movimentação nos Ministérios em Lisboa, originaram uma nova era.
Na Cova da Piedade, um grupo de sobralgordenses fundou  uma comissão, que deu continuidade às obras  anteriormente iniciadas na aldeia.



- A Fonte -

A água continuava a ser a prioridade e finalmente foi construído um chafariz com um bebedouro para animais, no centro da povoação e um lavadouro público coberto junto ao caminho para o Sobral Magro.


- O Lavadouro -

As crianças também não foram esquecidas e, a escola foi outra meta que passou a fazer parte dos objectivos dos sobralgordenses. Assim, em 1953, iniciaram-se as aulas no posto escolar de Sobral Gordo, que começou a funcionar numa casa adquirida para o efeito até  ao ano de 1958, data em que foi inaugurado o edifício escolar.


- A Escola -

Ao mesmo tempo, os esforços da Comissão de Melhoramentos dirigiram-se também para outros bens que faziam falta na povoação. Foi dessas movimentações que surgiram a biblioteca escolar e  o posto telefónico público, que vieram atenuar o afastamento da população do resto do mundo. Mas, para que esse afastamento diminuísse substancialmente, fazia falta uma estrada por onde transitassem veículos automóveis, o que se veio a verificar alguns anos mais tarde, após muitos esforços desenvolvidos pelos dirigentes da Comissão de Melhoramentos junto das entidades competentes.
Daí para a frente,  a povoação não deixou de ser beneficiada, nomeadamente no arranjo e abertura de caminhos, alargamento do largo da Courela, construção da Sede Social, arranjo da Capela , mas   a luta maior dirigiu-se para a beneficiação da estrada para Pomares, concluída em 1975, para a electrificação da aldeia que se veio a consumar em 1979, para o abastecimento de água a toda a povoação que aconteceu em 1986 e para o saneamento básico concluído em 1988.
A qualidade de vida dos habitantes do Sobral Gordo melhorou consideravelmente, mas a população estava cada vez mais envelhecida e as doenças atormentavam. Mais uma vez os dirigentes da Comissão  se movimentaram, na ânsia de conseguir o funcionameto dum posto médico na povoação, o que se veio a verificar a partir de 1988.
Com  as infraestruturas básicas e, para além da manutenção dos melhoramentos realizados, a atenção dos sobralgordenses voltou-se para o alindamento da aldeia e,  de novo, para as acessibilidades.
Foi alargado o coreto, construiu-se um edifício com bar, esplanada, sanitários e balneários públicos. Rompeu-se uma estrada para a Mourísia e alcatroaram-se todas as estradas.
Obra após obra, o Sobral Gordo ficou dotado com as condições de vida das zonas urbanas, com a vantagem de se poder usufruir duma bela paisagem e duma vida pura e saudável.

- O Sobral Gordo dos nossos dias -
(Foto: G.E. Raízes do Sobral Gordo)




Obrigada pela sua visita. Volte sempre.

quarta-feira, 17 de março de 2010

A Aldeia do Meu Pai II

Na adversidade é aconselhável seguir algum caminho audacioso.
(Lucius A. Seneca)


                                           
                    
O Passado:

Com uma vida tão dura, os habitantes da aldeia do meu pai, assim como os de muitas outras localidades situadas nas serranias do interior do país,  sentiram-se motivados a procurar uma vida melhor noutros locais do país ou do estrangeiro.


Uma grande maioria dos  homens rumou para a região de Lisboa em busca de trabalho, fixando-se principalmente nos Caminhos de Ferro (Lisboa) e na Cova da Piedade.
Viviam em quartos alugados e,  era numa qualquer taberna  que comiam as refeições e afogavam as mágoas, na companhia doutros que também tinham seguido os mesmos passos. Sentiam a falta da família.  As  mulheres tinham ficado na aldeia a amanhar as terras e a criar os filhos. Normalmente  iam à terra pelo S. Miguel, para ajudar nas  colheitas ou por ocasião da festa anual.  
Já com algum dinheiro junto,   reformavam-se e  regressavam definitivamente à aldeia onde acabavam os seus dias.  
Alguns sobralgordenses mais aventureiros, resolveram lançar-se nos negócios. Não tendo ao seu dispôr empréstimos bancários, pediam dinheiro emprestado aos seus conterrâneos e adquiriram quotas em sociedades. Após pagarem a dívida,  alguns conseguiram  uma vida mais desafogada. Depois, alguns davam emprego aos seus jovens conterrâneos que, como eles, vinham em busca de melhores condições de vida.
A partir de determinada altura,  as mulheres passaram a  seguir  os maridos no seu êxodo. Alugavam uma  casa de habitação e   os filhos passaram a nascer e a ser criados na região de Lisboa. No entanto, com as economias arranjavam ou construíam a casa na aldeia  onde, mais tarde, iam gozar a reforma.
Os que  não partiram,  também tentavam ganhar algum  dinheiro extra,  para poderem adquirir os produtos que a terra não lhes dava. Uns   vendiam o que tinham a mais, outros aprendiam mesmo uma profissão, que exerciam sempre que os trabalhos agrícolas  não exigiam a sua presença. Havia quem negociasse em gado e quem o matasse quando  necessário, mas os profissionais mais conhecidos  foram os canastreiros e os resineiros.
 O Sobral Gordo também sentiu a atracção que as minas da Panasqueira exerceram sobre a população da serra do Açor. Foram muitos os sobralgordenses que lá trabalharam e o meu pai seguiu-lhes as peugadas durante algum tempo.
 

- Dois dos melhores tocadores do Sobral Gordo -
(aqui sem instrumentos)

Apesar de tudo, na aldeia ainda havia tempo para se divertirem,  porque o corpo não é de ferro...
Assim, era frequente os seus naturais ocuparem  os  tempos livres com os jogos tradicionais, sendo mais populares  o fito e a panamalha, ou então, com  os bailaricos  ao som dos exímios tocadores e cantadores do Sobral Gordo. Este último caso tinha o seu ponto alto na festa anual, sempre muito concorrida, tanto pelos sobralgordenses como pelos habitantes das povoações vizinhas.

- O Largo da Fonte (entretanto construída) enfeitado para a festa -
 
 
 

Obrigada pela sua visita. Volte sempre.

terça-feira, 16 de março de 2010

A Aldeia do Meu Pai I

A vida só pode ser compreendida, olhando-se para trás; mas só pode ser vivida, olhando-se para frente.
(Soren Kierkergaard)

Nesta semana que eu dediquei ao meu Pai, vou escrever um pouco sobre a aldeia que o viu nascer. 
Este foi o tema proposto para o mês de Março, no  blog  Aldeia da Minha Vida . No entanto, enviei apenas um resumo deste e das postagens seguintes, pois estava confinada a apenas 25 linhas.


- Vista parcial do Sobral Gordo, no século passado -
O Passado:

O meu pai é natural duma pequenina aldeia chamada Sobral Gordo,  pertencente à freguesia de Pomares e concelho de Arganil, situada numa das encostas verdejantes da serra do Açor.
Quando ele nasceu, há 81 anos atrás, a população vivia da agricultura, em terrenos ganhos às vertentes íngremes da serra  com a construção de socalcos (cômbaros), bem como da   criação de gado.   Muito trabalho era comunitário e em tempo de dificuldade, ajudavam-se uns aos outros.
Na base da alimentação estavam os produtos  que cultivavam que acompanhavam a carne do porco que criavam e matavam anualmente. O peixe que se comia em algumas casas mais abastadas era o bacalhau e em dias de feira a sardinha.
No Sobral Gordo, havia famílias que se dedicavam a outras actividades, com as quais ganhavam algum dinheiro extra. Eram os casos dos canastreiros e  resineiros tão famosos na freguesia.
A aldeia não tinha estradas.Transportavam os bens à cabeça ou às costas. Só os mais abastados possuíam uma mula ou um macho para servir de transporte. Para se deslocarem à sede de freguesia, faziam-no a pé, percorrendo um estreito caminho. Só  por volta dos anos trinta do século passado, foi construído um  caminho de bois.
Não havia saneamento nem electricidade e a  água era transportada para casa, em cântaros dum local  situado fora da povoação (a Fonte Velha).
A roupa era lavada na ribeira e a higiene era feita em  alguidares com água aquecida na lareira, em grandes panelas de ferro .
Não havia  escola e  uma  parte da população era analfabeta. Os poucos que sabiam ler e escrever ensinavam aqueles que queriam aprender. Entretanto, a população da vizinha aldeia de Sobral Magro construiu um edifício escolar e, a partir do inicio do seu funcionamento, recebeu também as crianças do Sobral Gordo. Foi o caso do meu pai e de muitos outros que percorriam, a pé, a distância entre as duas aldeias, debaixo da chuva, frio, e  neve durante os rigorosos  invernos e sob  sol escaldante no Verão. Quase todos  eles, antes de seguirem para a escola, deixavam já um molho de mato à porta do curral das cabras e ovelhas e, no regresso, ainda iam ceifar erva, regar ou desempenhar qualquer outra tarefa no campo. À noite, após a ceia, à luz da candeia de azeite ou do candeeiro a petróleo, faziam os seus deveres e estudavam todas as matérias que faziam parte do vasto programa curricular da época.
A vida na aldeia era muito dura e as crianças faziam-se homens "à força" mas, o respeito marcava um lugar muito importante no seio de cada família.



- O Sobral Gordo, avistando-se ao fundo o Sobral Magro -


Sobral Gordo tem história
No arquivo da memória.
Passada de pais a filhos
Desde o dia em que nasceu
E no tempo não morreu
No marasmo dos seus trilhos.

(Jaime Lopes)


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