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segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Joaquina, Mulher da Serra

O dia amanheceu quente e ensolarado. Vergada pelo peso do molho do mato, Joaquina subia a custo a ladeira que a conduziria à sua fazenda. Levantara-se mais cedo  para se despachar pois o  "homem" reformara-se e vinha "de todo" para a terra.
Pelo caminho fez uma retrospetiva da sua vida já longa.
Nascera no seio duma família que, não sendo das mais abastadas, vivia desafogada. Tinham muitas terras de cultivo e o pai, pedreiro de profissão, tinha emprego quase todo o ano. Desta forma, para além dos produtos agrícolas   entrava dinheiro em casa, que lhe permitia algum desafogo na criação dos quatro filhos.
Já crescida, resolveu ir com outras raparigas da aldeia para as Minas da Panasqueira. Ali trabalhou durante algum tempo e, motivada pelas amigas ainda andava no salta-e-pilha. Assim juntou algum dinheiro para fazer o seu enxoval.
Como era hábito  os rapazes partirem para Lisboa em busca de emprego,  os irmãos de Joaquina também abandonaram a aldeia. A partir e então, deixou o trabalho nas minas para poder  prestar uma ajuda maior à mãe, passando a dedicar-se apenas ao amanho das terras.
Depois de casada, continuou na aldeia  como muitas outras mulheres enquanto os maridos  trabalhavam em Lisboa. Só pela festa e quando o trabalho do campo apertava mais, eles vinham dar uma ajuda.


Sempre que juntavam algum dinheirinho, empregavam-no na compra de terrenos. Na época, a riqueza das pessoas contabilizava-se pela quantidade de terras que possuíam. E, assim, cada vez a fazenda era maior e o trabalho também. Quis Deus que ela tivesse quatro filhos, todos eles rapazes. Trabalhou muito para os criar e, quando eles já lhe podiam dar uma ajuda, partiam para Lisboa. Toda a vida se lastimou por não ter uma "filhinha" para a ajudar.
Os anos de trabalho árduo foram-se sucedendo. Por vezes, em anos de seca em que  cada minuto de água era aproveitado para regar, tinha que o fazer de  noite, à luz da lanterna. E ela que tinha medo de tudo, passava a noite em sobressalto, assustada até com a sua própria sombra que se refletia no borralho do caminho.
Mas, nessa manhã acordara  mais alegre e a ansiedade apertava-lhe o peito. À   tarde chegava  o seu "homem"  para a ajudar e acompanhar o resto da vida.
E, nessa esperança, o caminho pareceu-lhe menos íngreme e o molho do mato muito mais leve.

Foto: Sónia Coisinha


Obrigada pela sua visita. Volte sempre.

6 comentários:

Anónimo disse...

Bom dia Dª lourdes
No blog não conseguia entrar
Como gosto de comentar
Vou fazelo a cantar
Não sei o que se passava
Mas algo estava errado
Com vontade de comunicar
Até ja andava enervado
Agora que consegui
Acabo o contratempo
Gostei de ler o seu escrito
Era a vida naquele tempo
Vida dura é verdade
Vida de escravidão
Havia era mais amor
Dentro do coração.

ALA Poemas
Voz do Goulinho
António Assunção

Unknown disse...

Olá amiga!
Como sempre mostrando e contando suas histórias de sua comunidade.
Obrigada amiga, assim fico a conhecer um pouco de sua cidade.
Que é uma beleza.
Deve ser muito bom morar ai.
Você deve amar muito seu Pais.
Abraços amiga.
Valeu!!!

Marli

Idanhense sonhadora disse...

Viva , Lourdes , gostei desta Joaquina ,serrana como eu ... Só que enquanto ,apesar do trabalho , ela pode ficar sempre a contemplar as nossas serras ,eu costumo dizer que os meus pais me desterraram quando me enviaram para Lisboa para a faculdade . Em mim ficou e continua a estar o anseio de as contemplar, de tal modo que hoje como outrora , quando volto as costas à serra as lágrimas correm dos meus olhos .Se tal não bastasse ainda me falta a campina da Idanha na sua planura imensa ,contrastando com a serra ... Vejo as 2 das janelas de minha casa em Idanha e chamo à «campanha » o meu mar ... Há quem entenda ,há quem ria ,mas eu sou serrana e o mar , mesmo o mar , para mim é monótono ....
Um abraço ,com «vezitas » beirãs e serranas da
Xquina

P.S. Gosto sempre de vê-la no meu blogue ; se tiver paciência e ler alguns dos meus poemas , entenderá
como é verdadeiro o que acima lhe disse.

Anónimo disse...

li nessa história um bocadinho do que foi a vida da minha avó Joaquina mas só um bocadinho porque infelismente o meu avô faleceu muito cêdo deixando a minha avó com os quatro filhos todos para criar

Beijinhos Hortense

Mariazita disse...

Olá, Lourdes
Gostei imenso da história de vida da Joaquina.
Na verdade gosto muito destes "retratos" de pessoas reais.
Têm qualquer coisa de especial que não se encontra nas histórias de ficção.
Para além de tudo o mais está muito bem escrita.
Parabéns.
A foto também é bonita.

Boa semana. Beijinhos

BALSAS disse...

É gratificante ler esta passagem sobre a Joaquina que simboliza muitas outras Joaquinas que viveram na Beira Serra com percursos semelhantes,pois em todas as nossas aldeias viveram grandes Joaquinas. Estas Joaquinas deviam servir de exemplo para as novas gerações,pela capacidade que tinham de sofrimento, que com todas as dificuldades que a vida lhes colocava lá faziam o seu percurso sempre cantando e rindo.
Ninguém pode ficar indiferente a esta Joaquina, parabéns pelo excelente trabalho partilhado com todos nós.