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segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Encontrei-me com o Passado



Olhando aquele retrato mal consigo conter  a emoção. Dói a alma ao ver aqueles campos desertos. São caminhos que percorri que não são mais os mesmos. Hoje estão quase impenetráveis e  a desertificação é cada vez mais visível. Encontrei-me com o passado e a  nostalgia ataca-me forte. A saudade dói e, por momentos, aquele local parece ganhar vida.
Vejo-me  a rabujar pelas topadas nas penedas e pelas ervas da beira do caminho que me mordem as pernas, na descida a caminho do pontão da ribeira, Do outro lado da ribeira  aguarda-me uma penosa subida, numas escaleiras rasgadas numa fraga  de xisto. Atrás de mim, a tia Leonilde incentiva-me carinhosamente. Avisto já o Coberto e o ti Gaspar sentado à porta da palheira, com uma malga de café sobre os joelhos e um naco de broa na mão. Damos-lhe a salvação e continuamos o nosso percurso. Uns longos metros após a subida,  já avisto a tia Delfina junto à palheira e o  ti Zé Miguel com o seu rebanho.

A visão das pessoas dá-me mais alento e prossigo,  saltando sobre os montes de borralho, levantando uma nuvem de pó à minha volta. Lá está a tia Assunção com os filhos, no meio do milho aproveitando as poucas horas de rega.  A minha tia já vai a chegar e, daí a nada, corta-lhe  a água.

Na Feiteira, do outro lado da ribeira, lá está o ti Cristiano a pôr o mato no curral das cabras, enquanto a Marquitas, a Isabel e a Natividade brincam com os chibitos.

Já avisto o Cabeço e oiço a tia Silvina a falar. Rapidamente, desço o caminho para a palheira,  seguindo o cheirinho a café que a minha avó está a fazer. A tia Silvina chama-me. Quer saber notícias dos meus pais  e dá-me notícias do Sobral Gordo. Entro na palheira, onde  o meu avô já está com o leitinho acabado de ordenhar, para juntar ao meu café.

Sinto-lhe o cheiro, mas o retrato continua ali, sem vida a mostrar-me a verdade nua e crua e, uma lágrima teimosa encontra caminho e escapa pelo meu rosto abaixo.



Obrigada pela sua visita. Volte sempre.



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