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quarta-feira, 6 de abril de 2011

Uma Professora na Serra

Pela sua mente continuavam a desfilar imagens da sua permanência na aldeia e era inevitável recordar o primeiro dia de aulas.
Depois de se arranjar, preparou-se para seguir para a escola que ficava fora da povoação. Ia  apresentar-se  e fazer as matrículas.
A ansiedade era grande, perante   a perspectiva de, pela primeira vez, ter  um grupinho de alunos que ela sozinha iria ensinar.  Na Escola do Magistério Primário sempre  sentira a protecção da professora  da turma, nas suas aulas de estágio mas, a partir de então, seriam apenas ela e os seus alunos. Num misto de entusiasmo e receio, saiu de casa e logo  foi surpreendida com um grupo de crianças  que alegremente a  aguardavam. Vários pais aproximaram-se também e como já conhecia alguns começaram de imediato a conversar, enquanto  outros timidamente se lhes juntavam. Admirou-se porque a aldeia era pequena e as   crianças eram muitas mas, à saída da povoação  ainda ficou mais admirada. Vários grupos  surgiam vindos de diferentes caminhos e juntavam-se-lhes. Foi então informada que todas aquelas crianças vinham a pé de povoações situadas a alguns quilómetros, para frequentar aquela escola, por ser a mais próxima das aldeias que habitavam.
E ela que achava que a distância de casa até à escola ainda era considerável e o caminho  que percorriam desde a saída da povoação era estreito e pedregoso através da  encosta descampada do monte. Naquela manhã  de Outubro,  o dia estava lindo mas e em dias de chuva e vento? E se nevasse? Seria muito complicado...

(Foto: Sérgio Antunes)

Quando chegaram à entrada da escola, virou-se para trás. Perante o autêntico cortejo crianças que tinha à sua frente, deixou imediatamente de se preocupar com o caminho e com o clima.
Olhando aquelas dezenas de carinhas que aguardavam ansiosos na sua frente, de olhos ternos e vivaços fixos nela , assustou-se. Não havia mais nenhuma professora e teria que ministrar o programa das quatro classes. As crianças ultrapassavam em muito as 30. Seria ela capaz de, no seu primeiro ano de trabalho, atingir a metas  com que ela e os pais sempre sonharam?
Uma vez mais, levantou a cabeça. Teria que vencer as dificuldades uma após outra.  Não era a primeira e não seria a última...
Decidida, mandou-os  entrar e seguiu-os juntamente com os pais.

Obrigada pela sua visita. Volte sempre.

7 comentários:

Unknown disse...

Um dia...
Seria reformada ai chegaria a recompensa.

Unknown disse...

Olá
As grandes figuras fazem-se nas dificuldades diárias.
A vida de uma professora nessas aldeias era muito dura, mas quando elas tinham essa capacidade de ver que muitos dos seus alunos ainda estavam em piores situações.
Era preciso crescer diariamente com eles e compreende-los.
Linda a sua história.

Anabela Jardim disse...

O primeiro dia de aula é muito emocionante para uma jovem professora. É como participar de um programa de calouros. Dá insegurança e só embalamos quando erguemos a cabeça e enfrentamos o desafio.

Flora Maria disse...

Imagino a emoção da jovem professorinha no seu primeiro dia de aula !
Poder ensinar aqueles seres carentes de conhecimento é uma missão maravilhosa, coisa para não se esquecer por toda a vida.

Beijo

Anónimo disse...

Como eu me lembro dos meus colegas de escola que vinham a pé com neve,chuva,vento,frio da Gramaça do Chão Sobral para a escola em Vale de Maceira quantas vezes essas crianças chegavam com a pouca roupa que traziam no corpo mulhadinha o que lhes valia era as boa gente do Vale de Maceira que os levavam para casa para lhes enchugar a roupa á lareira eu já não falo de mim porque me considero um preveligiado como sabes Lourdes do Goulinho ao Vale de Maceira são +/- 1500 mts mas como os tempos eram dificeis talvez por isso a nossa geração ao longo da vida tem sabido ultrapasar dificuldades.
Parabens pelo teu trabalho feito nessa epoca em prol da joventude serrana.
Voz do Goulinho

Idanhense sonhadora disse...

Ah! grande professora , assim se honra a classe que devia ficar cheia de orgulho por ter professoras desta coragem !! Eu estou cheia de orgulho e louvo a minha colega .
Nunca esquecerei, também , a minha 1ª aula ; o Director disse-me : "Tem aqui o horário , comece ! Tem bata ? Não , então arranje uma ,sem bata não pode ir ; peça uma emprestada " ...
Nem me perguntou se eu sabia qual era o programa e eu não sabia qual era ... Apenas sabia que ia ter uma turma do 3º ano do Curso Geral de Mecânica e que ia dar História ... Quanto ao programa ,tive de me "desenrascar " tal como a bata ...
Outros tempos que apenas mostram
Mas a vida da professora que a Lourdes nos narra foi muito mais dura e abnegada que a minha . Por isso repito : tenho muito orgulho nela !!!
Beijinhos
Quina

Acácio Moreira disse...

Olá Maria de Lourdes uma linda história. Acredito que não seria fácil entrar numa escola com mais de trinta alunos e quatro classes para ensinar, seria bastante assustador para uma iniciada. O que diria uma docente dos dias de hoje.
Um beijo
Acácio Moreira