Os homens só serão grandes, se estiverem realmente decididos a sê-lo
(Charles de Gaulle)
(Charles de Gaulle)
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Tal como escrevi no meu post de ontem, a apresentação do Grupo Etnográfico Raízes de Sobral Gordo na festa de Sobral Magro, esteve a cargo de um grupo de senhoras, que o fizeram da seguinte forma:
Ó c´alma do diabo
Que é que lá vem a assomar?
Tanta gente n´ avesseira
Ouvi um harmónio a tocar!
Ai o catrino! Atão tu não vês?
Olha que uma como esta!
É um rancho do Sobral Gordo
Que vem para a nossa festa.
Ai meu Deus, a nha vida!
Ando toda consumida
Vêm aí os do Sobral Gordo
Tenho qu’ ir tratar esta ferida.
E cuidas que és só tu?
Também dei uma topada
E quando fui tratar as pitas
Fiquei toda esgarranchada.
Eu vou mas é pi arriba.
Tenho que me desengomar.
Ponho borralho na ferida
Que ela vai logo sarar.
Ai valha-me o S. Domingos!
E eu tão mal enjorcada,
Fui botar comer às cabras
E caí lá na quelhada.
Vai breve, põe-te bulir
E vê se te vais estonar
Vai lá mas é pi além
Depois vem-te aqui prentar.
Ai, mas que grande estrofego!
Deixa-as mas é ir embora
Que duas esgazeadas!
Não se colhem cá por hora…
Entrementes é de noite
E começa o bailarico.
Mal se percata acaba
Ainda lhe dá um fanico…
E a outra, pensas qu´é boa?
Não lhe dera um sumiço!
Quer arranjar conversado
Arranja algum achadiço.
Olhai-de como ela vem!
Vem aí toda listrada
Anda à cata de namoro
Parece que anda augada.
E a outra, vem azadinha
Aprontou-se num instante
Ao cabo de uns minutinhos
Já está aqui diante.
Já cá estou, vim às carreiras,
Mas estou muito agoniada.
Comi dois pratos de cabulo
Com fressura e tigelada.
Olha ela aqui aos arrancos!
Isto é coisa do indemigo!
Vê lá se saras depressa
Para ires dançar comigo.
Vê lá se vais lançar fora,
Vai mas é para o barroco.
Se te vires desacorçoada
Gomitas lá no chabouco
Olha a filha do diabo,
Ainda se vai arreboçar
Não tinha precisão disto.
Quem é qu 'a mandou enfardar?
Eu só comi uma esparvadela,
O que eu quero é bailar.
Comi um coisito de chanfana
Que eu já não estou a medrar.
Eu cá comi carne fresca
Coscoréis e tigelada
Pão leve e arroz doce.
Não comi quase nada!
Eu também comi chanfana,
E um caldo bem quentinho,
Uns bolos que fiz no forno
E uma malga de vinho.
Já passou a nha afronta
Arranja-me aí um cabito.
Por via das dúvidas assento-me
E espero pelo bailarico.
Assenta-te aí, está quedinha
P´ra morde não enjoares
Tu cuidas que eu não sei?
Tu morres se não bailares…
Ah bô tu faladeirona.
Eu estou a pegar contigo?
Só estás bem a empeçar
E a espreitar ao postigo...
Estão a ser muito somenos.
Com vocês eu não me avenho.
Quitem-se lá da nha frente
Senão levam c´um tanganho.
Homessa, faço-te enxeco?
Avento-te uma fragada.
Por via das dúvidas eu vou-me,
Já estou a ficar enfadada!
Não fiques arrenegada
Pára lá de fazer ronha
Eu estava a mangar contigo.
Olha qu'eu não tenho pessonha.
Olhai-de. Um é dos Filipes…
Vê lá tu, que enxergas bem
Diz lá se consegues descobrir
Quem são os que estão além.
Uns são filhos da tia Laura,
Outros Nunes e Agostinhos.
Alguns não enxergo bem .
Mas vêm todos arranjadinhos!
Olhai bem, lá vêm eles
Aprontem-se, vamos dançar
Os rapazes são azadinhos
E depois vão desapartar.
Damonhos da rapariga,
Vinha toda apoquentada.
Enxergou ali os rapazes
Já nem enjoa nem nada.
O S. Domingos oiviu-me
O mal já me está a passar.
Ó coisa tu não oiviste?
Lá estão eles a tocar.
Atão não houvera de oivir?
Eu ainda não estou mouca.
Vê lá mas é se te calas
Olha que estás a ficar rouca.
Eles já estão a chegar.
Agora já estais felizes?
São amigos do Sobral Gordo
E formam o grupo RAÍZES!
- G.E.R. do Sobral Gordo -
(Foto do Rouxinol de Pomares)
1 comentário:
Parabens á escritoura ou escritor retrata muito bem o modo de falar dos nossos antepaçados PARABENS.
Os verços que eu escrevo
Acreditem não são meus
Vam-me saindo da mente
Foram-me ofercidos por Deus.
As terras do nosso Açor
São terras que eu muito amo
Acreditem no que eu digo
Pois eu nunca vos engano.
Antonio Assunção
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