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sexta-feira, 20 de abril de 2012

Casa-Museu do Soito da Ruiva

Soito da Ruiva


A caminhada que fiz com alguns conterrâneos levou-me  ao Soito da Ruiva.  Para além de saudável mexeu também com as minhas emoções pois trouxe-me à lembrança os  tempos de juventude em que acompanhava a minha tia que vendia peixe, de terra em terra.
Já no Soito da Ruiva, as emoções continuaram com uma visita à casa-museu daquela aldeia que há muito desejava conhecer. Não podia perder a oportunidade e, contando com a simpática ajuda do Sr. António Neves que nos recebeu e serviu de cicerone, lá fomos.
É uma casa pequena e original. Foi cedida por um Soitorruivense que, desinteressadamente, pôs ao serviço da comunidade este espaço, o mais  genuíno dos que até hoje visitei.
Pequena como era a maior parte das casas das aldeias da serra.  A riqueza das famílias serranas avaliava-se em função das terras de cultivo que se tinham e não pelas habitações. A minha avó costumava dizer: “ Casa que não caibas e fazenda que não saibas”.
Ao entrar tive a sensação de recuar no tempo. O local é dum  realismo tal, que parece  ainda habitada por pessoas de carne e osso. No seu lugar, vários bonecos  trajados a rigor, à moda do início do século passado, eram uma cópia fidedigna duma realidade que ainda conheci e que estava bem guardada  bem lá no fundo das minhas recordações.
Logo à entrada, um pequeno corredor donde sobressai a escada para o forro (sótão) sob a qual  estava o molho de  lenha, chamiças e gravetos, aproveitando o espaço vago.
 
Casa Museu do Soito da Ruiva

Logo a seguir a cozinha funda, assim chamada porque  a fogueira se fazia num local rebaixado em relação ao sobrado, que por ficar mais alto, era aproveitado como banco onde as pessoas se sentavam ficando com os pés à altura da fogueira.
Num dos lados a cantareira, os cântaros e loiças. Nas paredes e no chão, estrategicamente colocados vários utensílios de uso diário, utilizados na época. Sentado no sobrado , um boneco dava mais realismo à cena.
 
Casa Museu do Soito da Ruiva

 
Voltando ao corredor entrámos na sala. Poucos móveis como era usual e muitos e variados objectos da época. Como as gentes  da serra sempre foram profundamente religiosas, em todas as casas havia quadros com imagens de santos ou cenas bíblicas, possivelmente compradas em dia de “Romagem” no Vale de Maceira. Como não podia deixar de ser lá estavam quadros nas paredes representativos da grande fé dos habitantes da região.
Num canto, um casal de bonecos simulava os donos da casa que nos recebiam com a habitual hospitalidade serrana. A senhora devia ser costureira poisa máquina de costura bem antiga sobressaía junto da pequena janela. Também não faltam os brinquedos e material escolar das crianças.

Photobucket
 
A mesa posta parecia aguardar   a comida que toda a família iria comer da mesma bacia.
A sala servia também de passagem para os quartos onde pouco mais havia que uma cama e  um banco sobre o qual  se colocavam alguns objectos pessoais.

Casa Museu do Soito da Ruiva
 
 
 
Na banqueta da janela, o candeeiro a “pitrol” que iluminava o  local e um despertador que garantia o despertar para o caso de serem traídos pelo sono ou pelo cansaço.
A cama estava feita para dias especiais como acontecia quando recebiam alguma visita ou o médico em caso de doença muito grave. Neste, havia um lavatório apetrechado com um jarro e um balde, que servia para a higiene diária de toda a família. De parede a parede uma corda  suportava a pouca roupa que o casal possuía.

Casa Museu do Soito da Ruiva
 
Num outro quarto mais pequeno, as arcas, as mantas  e  toda uma parafernália de materiais diversos completavam esta mostra da vida dos nossos antepassados.
Foi uma visita muito instrutiva e proveitosa. Na nossa companhia havia jovens que nesta casa, cópia simples e fidedigna das habitações dos seus avós, percorriam animadas as várias divisões, comparando a dura vida  que eles tiveram com a que eles vivem na actualidade. 
Para mim e para os outros adultos foram momentos de nostalgia que nos trouxeram à lembrança as nossas vivências de criança e, sobretudo as pessoas com as quais privámos em criança, que tinham tão pouco e davam tanto valor ao pouco que tinham.
Esta casa era tudo o que eu estava à espera. Sempre ambicionei  uma assim para o Sobral Magro pois sempre foi meu desejo  deixar aos nossos descendentes um pedaço elucidativo da história dos nossos antepassados.
Como não é coisa que possa fazer sozinha, vou-me contentando em acompanhar as ideias que os amigos do Soito da Ruiva vão pondo em prática e com as quais eu me identifico.

Casa Museu do Soito da Ruiva



Parabéns Soito da Ruiva!
Parabéns a esta boa gente que tanto orgulho têm na sua história e a honram na forma como a preservam e divulgam .


Obrigada pela sua visita. Volte sempre.

3 comentários:

alfacinha disse...

É muito interessante para ver estes artefactos da vida quotidiana, pois retratavam a história de gente comum que é tão preciosa como a vida palaciana
Cumprimentos .

Flora Maria disse...

Emocionante visitar esse Museu familiar, Lourdes !
Vi no sul do Brasil alguns assim, mostrando a vida dos imigrantes que aqui chegaram.

Também sonho que minha cidade tenha um museu mostrando como viviam os primeiros moradores daqui, mas isso ainda não existe.

Beijo

Unknown disse...

Lourdes, boa noite!
Hoje, a passear por aqui, encontrei este post riquíssimo que apreciei minuciosamente. As folhas de Jornal recortadas a imitar panos de renda, fizeram-me lembrar as que a minha avó recortava e que, depois colocava nos móveis toda contente.

Eram tempos difíceis, viviam sem luxo, com tão pouco mas, eram felizes. Agora que temos tudo, na maioria das vezes estamos insatisfeitos.

Beijinho e muito obrigada por esta partilha que adorei!
Ana Martins