Na última sexta-feira, na rubrica Porque É Fim de Semana, referi-me à União das Freguesias de Fajão e Vidual, que vamos descobrir nos próximos tempos e lembrei-me que os "Contos de Fajão" seriam um excelente tema para os próximos tempos.
Como não os conhecia todos, vali-me do blog da Ponte de Fajão, em http://pontefajao.no.sapo.pt para partilhar com os visitantes d' O Açor.
Um dia mataram um homem na serra da Rocha, e o Juiz de Fajão, que andava por ali à caça, viu quem o matou.
Mas como esse homem andava de mal com certo indivíduo, puseram as culpas a esse com quem ele andava de mal.
No tribunal, as testemunhas juraram que tinha sido esse fulano o assassino...
O Juiz de Fajão tinha visto, mas não podia ser ao mesmo tempo testemunha e juiz. Tinha de julgar conforme a prova testemunhal, mas também não queria condenar um inocente e deixar em liberdade o assassino.
Então lavrou a seguinte sentença:
No tribunal, as testemunhas juraram que tinha sido esse fulano o assassino...
O Juiz de Fajão tinha visto, mas não podia ser ao mesmo tempo testemunha e juiz. Tinha de julgar conforme a prova testemunhal, mas também não queria condenar um inocente e deixar em liberdade o assassino.
Então lavrou a seguinte sentença:
Julgo que bem julgo,
posto que bem mal julgado está!
Vi que não vi,
morra que não morra!
Dêem o nó na corda que não corra.
Chés-bés; Maria põe palha
posto que bem mal julgado está!
Vi que não vi,
morra que não morra!
Dêem o nó na corda que não corra.
Chés-bés; Maria põe palha
E, lida a sentença, aconselhou o réu a recorrer para a Relação.
Foi o processo para a Relação do Porto, e de lá devolveram-no alegando que não entendiam os dizeres daquela sentença, especialmente aquele «chés-bés, Maria põe palha». Que era melhor lá ir.
Foi o processo para a Relação do Porto, e de lá devolveram-no alegando que não entendiam os dizeres daquela sentença, especialmente aquele «chés-bés, Maria põe palha». Que era melhor lá ir.
Depois entrou, mas ninguém lhe deu cadeira para se sentar. Então ele
não se desmanchou; pegou no capote, dobrou-o muito bem dobrado e
sentou-se em cima dele.
Perguntaram-lhe então o que queria dizer a sentença, e ele explicou:
«Julgo bem julgo,» porque julguei conforme a prova testemunhal.»
«Posto que bem mal julgado está», porque eu vi que o réu está inocente».
«Vi, que não vi», porque vi quem matou mas não posso ser Juiz e
testemunha». «Morra que não morra, dêem o nó na corda que não corra»,
porque ele não deve morrer visto que está inocente».
E pergunta o presidente da Relação:
- Então o que é isto que aqui está: «chés-bés, Maria põe palha»?
- Pois os senhores não sabem o que é chés-bés? Até um rapazito
sabe o que isso é. Olhe, quando eu entrei estava ali um à porta; se o
mandarem chamar, ele diz o que isso é.
Foram chamar o rapazito, e perguntaram-lhe o que quer dizer «chés-bés». Ele respondeu logo: Quer dizer etc., etc.
O Juiz da Relação não se deu por vencido, e perguntou ao Juiz de Fajão:
- Então e isto que aqui está: «Maria põe palha»?
- Sabe, Sr. Dr. Juiz, é que nós lá em Fajão temos falta de
azeite para nos alumiarmos, e então deitamos palhas na fogueira
para podermos escrever.
Quando a chama vai a apagar-se tem de se dizer: Maria, põe palha!
O Juiz da Relação disse então:
- Pois se lá não têm azeite, mande cá uma almotolia que eu dou-lhe o azeite.
« Então o senhor Juiz não leva o capote?»
- O Juiz de Fajão nunca levou cadeira donde se assentou.
*
A almotolia do azeite
Como o Juiz da Relação do Porto disse ao Juiz de Fajão que mandasse lá
uma almotolia, que ele lha enchia de azeite para
se alumiar, o Juiz de Fajão, que não era trouxa nenhum, mandou fazer uma
almotolia grande, capaz de encher o chedeiro dum carro de bois.
Chamou os latoeiros da terra e dos arredores, e quando a almotolia
estava pronta, puseram-na em cima dum carro de bois e lá vão com ela
para o Porto.
Chegados ali, bateram à porta do Juiz da Relação, dizendo que iam buscar a almotolia de azeite que estava prometida desde
o dia tantos de tal.
A criada, que veio à porta, ficou arrelampada , e foi lá dentro dizer
ao patrão: Estão ali uns homens, mandados do Sr. Juiz de Fajão, dizendo
que vêm buscar a almotolia de azeite que lhe tinha prometido no dia
tantos de tal; mas é uma almotolia que enche o carro!
Ora o Juiz da Relação não tinha dito qual o tamanho da almotolia, e
para não dar parte de fraco teve de mandar pedir azeite emprestado para
encher a almotolia do Juiz de Fajão.
Obrigada pela sua visita. Volte sempre.
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