A minha vida profissional como professora do 1º ciclo iniciou-se no Sobral Magro. Na aldeia vivia-se em condições precárias. Não havia luz elétrica, nem água canalizada mas, na casa dos meus pais tínhamos um gerador de energia eléctrica , no sótão um depósito que enchíamos ligando uma mangueira à fonte e no quintal havia uma grande fossa que me proporcionou boas condições vida enquanto lá estive a lecionar. No entanto na escola nada disso havia. Os Invernos rigorosos eram uma aventura. Tínhamos uma salamandra na sala de aula mas não defumava em condições. De cada vez que a acendíamos, num instante ficávamos envoltos numa nuvem de fumo e o ar que se respirava na sala era insuportável. Muitas vezes chegávamos à Escola e não tínhamos visibilidade na sala. Ficávamos a conversar até o Sol romper as nuvens e termos luz suficiente para poder ler e escrever.
Foi o meu primeiro ano de trabalho docente e para mim foi muito positivo porque conhecia muito bem o local que adorava. Reconheço que para quem não tivesse o mínimo conhecimento do que era viver na serra no século passado, não seria um embate muito agradável a chegada a uma aldeia isolada onde não se conhecia ninguém e onde se iriam passar os meses seguintes afastado da família e do seu meio. Eu não, estava entre a minha gente numa aldeia onde desde pequena passava as férias e me sentia muito bem.
Foi o meu primeiro ano de trabalho docente e para mim foi muito positivo porque conhecia muito bem o local que adorava. Reconheço que para quem não tivesse o mínimo conhecimento do que era viver na serra no século passado, não seria um embate muito agradável a chegada a uma aldeia isolada onde não se conhecia ninguém e onde se iriam passar os meses seguintes afastado da família e do seu meio. Eu não, estava entre a minha gente numa aldeia onde desde pequena passava as férias e me sentia muito bem.
Uma parte dos alunos vinham de longe e, era com grande admiração que via aquelas pequenas crianças chegarem à escola, de mãozitas geladas, faces queimadas pelo frio, mas sempre com um sorriso nos lábios.
Um deles, eu até conseguia adivinhar quando estava a chegar pois ouvia-o, ao longe, a cantar ou a assobiar. Era o José Carlos que chegava com a Adelina, vindos do Sobral Gordo. Então, eu pensava como podia aquela criança enfrentar um longo e perigoso caminho para ir à Escola, com a alegria que sempre demonstrou.
O tempo passou e, hoje, não me admira que ele seja um dos membros do Grupo Etnográfico Raízes do Sobral Gordo onde canta e me encanta pois ao ouvi-lo, sinto-me com 20 anos à porta da Escola do Sobral Magro, à espera que ele chegue com a sua companheira de aldeia.
Foto: Facebook do Raízes do Sobral Gordo
4 comentários:
Olá, Lourdes
Recordar é viver, não é verdade?
Este lindo texto revela uma saudade boa, daquelas que põe um sorriso em nossos lábios.
É muito bom ter momentos felizes para relembrar...
Muito obrigada pelos parabéns :)
Boa semana. Beijinhos
Lourdes , conseguiu emocionar-me ! Essa é uma daquelas recompensas que se tem como professora ,o reencontro com os nossos alunos e o ver que eles estão bem e felizes . Parabéns à professora , parabéns ao «rancho» que felizmente ,tem muita gente nova ,como a foto o mostra .
Saudações beirãs e «arraianas »
Lourdes:
Seu relato cheio de saudade põe à mesa a constatação de que o ensino hoje é tão mais prático, tem tantas facilidades, que deveria proporcionar melhores resultados. Isso não ocorre: a dedicação e a vontade de aprender de quem chega à escola está anos luz aquém do que ocorria lá atrás. Sinal dos tempos.
Beijos
São estas páginas de vida que nos confortam merecidamente, a lembrança dos caminhos percorridos!!!!
Um Bjo!
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