Um poeta é sempre irmão do vento e da água: deixa seu ritmo por onde passa.
( Cecilia Meireles)
Mais um dia de chuva e vento intensos, bom para passar o dia no aconchego do lar. Aproveitei o Domingo para descansar, enroscada no conforto do sofá, na companhia de um bom livro. E que tal a poesia de Fernando Pessoa?
Chove ? Nenhuma Chuva Cai...
Chove? Nenhuma chuva cai...Então onde é que eu sinto um diaEm que ruído da chuva atraiA minha inútil agonia ?
Onde é que chove, que eu o ouço?Onde é que é triste, ó claro céu?Eu quero sorrir-te, e não posso,Ó céu azul, chamar-te meu...
E o escuro ruído da chuvaÉ constante em meu pensamento.Meu ser é a invisível curvaTraçada pelo som do vento...
E eis que ante o sol e o azul do dia,Como se a hora me estorvasse,Eu sofro... E a luz e a sua alegriaCai aos meus pés como um disfarce.
Ah, na minha alma sempre chove.Há sempre escuro dentro de mim.Se escuro, alguém dentro de mim ouveA chuva, como a voz de um fim...
Os céus da tua face, e os derradeirosTons do poente segredam nas arcadas...
No claustro sequestrando a lucidezUm espasmo apagado em ódio à ânsiaPõe dias de ilhas vistas do convés
No meu cansaço perdido entre os gelos,E a cor do outono é um funeral de apelosPela estrada da minha dissonância...
Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"
Obrigada pela sua visita. Volte sempre.
2 comentários:
ola lourdes,ha um miminho para vc no meu cantinho.bjo
Querida amiga Lourdes,
E a chuva continua...hoje está um dia tenebroso aqui por cima, na minha bela Vila D'Artes.
Poema lindíssimo de Fernando Pessoa, mas não chega para nos dar alento.
Eu também preciso de um céu azul, claro!
Urgentemente.
Beijinhos
Ná
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