Manhã de Inverno
Coroada de névoas, surge a aurora
Por detrás das montanhas do oriente;
Vê-se um resto de sono e de preguiça,
Nos olhos da fantástica indolente.
Névoas enchem de um lado e do outro os morros
Tristes como sinceras sepulturas,
Essas que têm por simples ornamento
Puras capelas, lágrimas mais puras.
A custo rompe o Sol; a custo invade
O espaço todo branco; e a luz brilhante
Fulge através do espesso nevoeiro,
Como através de um véu fulge o diamante.
Vento frio mas brando, agita as folhas
Das laranjeiras húmidas da chuva;
Erma de flores, curva a planta o colo,
E o chão recebe o pranto da viúva.
Gelo não cobre o dorso das montanhas,
Nem enche as folhas trémulas a neve;
Galhardo moço, o Inverno deste clima
Na verde palma a sua história escreve.
Pouco a pouco, dissipam-se no espaço
As névoas da manhã; já pelos montes
Vão subindo as que encheram todo o vale;
Já se vão descobrindo os horizontes.
Sobe de todo o pano; eis aparece
Da natureza o esplêndido cenário;
Tudo ali preparou co'os sábios olhos
A suprema ciência do empresário.
Canta a orquestra dos pássaros no mato
A sinfonia alpestre, - a voz serena
Acordo os ecos tímidos do vale;
E a divina comédia invade a cena.
Machado de Assis, in "Falenas"
4 comentários:
Amei você ter se lembrado de um lindo poema de Machado de Assis e ter postado uma foto belíssima. Um abraço, Yayá.
Muito bonito o poema.A foto nos remete a uma viagem.
Até parece que Machado de Assis acabou de percorrer a nossa serra ,não é Lourdes ? Adorei
Bj
Quina
Bebi e mitiguei saudades!
Obrigado.
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