No entardecer dos dias de Verão
No entardecer dos dias de Verão, às vezes,
Ainda que não haja brisa nenhuma, parece
Que passa, um momento, uma leve brisa...
Mas as árvores permanecem imóveis
Em todas as folhas das suas folhas
E os nossos sentidos tiveram uma ilusão,
Tiveram a ilusão do que lhes agradaria...
Ah!, os sentidos, os doentes que vêem e ouvem!
Fôssemos nós como devíamos ser
E não haveria em nós necessidade de ilusão...
Bastar-nos-ia sentir com clareza e vida
E nem repararmos para que há sentidos...
Mas Graças a Deus que há imperfeição no Mundo
Porque a imperfeição é uma coisa,
E haver gente que erra é original,
E haver gente doente torna o Mundo engraçado.
Se não houvesse imperfeição, havia uma coisa a menos,
E deve haver muita coisa
Para termos muito que ver e ouvir...
Alberto Caeiro ( Heterónimo de Fernando Pessoa )
in O Guardador de Rebanhos
Obrigada pela sua visita. Volte sempre.
5 comentários:
Querida Amiga Lourdes,
Fernando Pessoa mantém-nos sempre em suspense com as suas imagens. Aprecio a sua obra, por vezes apresentando nelas situações estranhas mas sempre com um fundo a obrigar-nos a pensar, como aqui é o caso!
Beijinhos amigos.
A imperfeição é uma criação em si mesma, um poema reflexivo e belíssimo. Um abraço, Yayá.
Que beleza de foto. Enche-nos o olhar.
O poema é soberbo. Obra de mestre.
Ilusão dos sentidos ou sentimentos de vidas nas folhas, na brisa, no prazer que se (vê) mas que (não existe)
Olá Lourdes , sempre pelo Pessoa e belíssima a sua paisagem ....
Eu , regressada a Lisboa ,tristemente ,espero que esteja tudo bem consigo .
Beijinhos
Quina
Olá Lourdes
Esta imagem é espectacular
belissima imagem que transporta até aos escritos de Fernando Pessoa aos seus poemas que nos enchem a alma
parabéns por esta postagem magnifica
beijos
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