As malas continuavam ali, ao cimo da escada, aguardando as pessoas que as iriam carregar para Pomares, onde a viriam buscar, para regressar a casa. Era assim na década de 50. Quando alguém abandonava a aldeia tinha que pedir ajuda para transportar os "carregos" durante os aproximadamente 6 km que separavam o Sobral Magro da sede de freguesia, o local mais próximo com estrada.
Olhando mais uma vez para os montes sobranceiros à povoação, não conseguiu deixar de recordar mais alguns momentos que mais marcaram a sua estadia na serra.
Cedo se integrou perfeitamente no ambiente onde vivera os últimos dez meses e tornou-se bastante amiga das jovens da aldeia. Todos os Domingos as acompanhava à Missa a Pomares. As conversas que tinham durante o percurso ajudaram-na a conhecer cada uma delas. Divertia-se com as estórias que lhe contavam e conhecia já todos os namoricos da povoação. Por outro lado, as raparigas da aldeia também já não iam a lado nenhum sem ela. Vivera momentos deliciosos, quando, ao fim da tarde, iam dar "de comer" e ordenhar o gado. Aprendera mesmo a fazer queijo, a cozer broa e adorava os longos serões que passavam à lareira. Ora em casa duma ora de outra, faziam renda ou bordavam peças para os respectivos enxovais, ouvindo os mais velhos contar estórias de bruxas e lobisomens que muitas vezes lhe tiravam o sono.
Com o passar dos tempos, gerou-seu uma cumplicidade com algumas delas maior do que a que tinha com as suas colegas de escola e sabia que jamais as esqueceria bem como aos momentos vividos em conjunto.
Um sorriso encheu-lhe as faces. Naquela altura recordara-se duma cena passada durante uma das últimas noites. Duas irmãs tinham que ir regar durante a noite pois fazia muito calor. Em vez de passar o serão em casa, aproveitou para apanhar o ar fresco da noite e foi com elas. Sentara-se numa rocha desgastada duma #escaleira" e acabara por adormecer encostada à parede dum "cômbaro", enquanto as outras regavam entre as canas do milho, à luz duma lanterna.
Ao acordar, deparou com umas pequenas luzinhas que brilhavam nos degraus cimeiros da escaleira. Estremunhada chamou as raparigas que acorreram ao seu chamamento. Apontou para aquelas pequenas luzes que ao acordar lhe pareceram maiores.
As raparigas soltaram uma sonora gargalhada que ecoou na barroca, no silêncio da noite ao mesmo tempo que gritavam:
- É um luz-cu, é um luz-cu!
Na altura nem se atreveu a perguntar o que era um luz-cu mas, mais tarde, veio a descobrir que aquelas luzinhas não eram mais que pirilampos.
Obrigada pela sua visita. Volte sempre.
5 comentários:
Olá Lurdes, hoje ela amanhã nós...a vida é assim alguem tem de ir abrindo caminho ...beijo grande e obrigado pela visita.
Manuela
Oram vejam que a mocinha não conhecia os vagalumes !!!
E eles são encantadores, iluminando as noites quentes do verão.
Aqui em casa, muitas vezes entram na sala, para nossa alegria !
Beijo
É o relato dum tempo histórico, inimaginável para as novas gerações. É, também, a descrição genuina dos costumes e do linguajar vernáculo destas terras! Achei graça ao regionalismo "luz-cu". Por aqui dizia-se luzincu!
Boa tarde, Lourdes
Muito obrigada pelas suas simpáticas palavras lá na minha «CASA».
Aos poucos vou retribuindo as visitas recebidas, de modo a não prejudicar a recuperação.
Este texto fez-me lembrar o tempo da infância, em que, nas férias, andava pelo campo à procura de luzicús - assim se chamavam lá p'ras minhas bandas...
Fui ao blog dos selinhos, levei-o, escrevi comentário mas não o pude deixar visto não aceitar comentários anónimos. É que estou com um problema no meu blog que não me deixa fazer login nem comentários personalizados, só Anónimos.
Copiei-o para lhe mandar por email, mas afinal posso deixá-lo aqui. É assim:
"Boa tarde, Lourdes
Muito obrigada pela oferta do selinho.
Vou levá-lo, sim, mas dar-lhe seguimento é que vai ter que esperar... Tenho muitos selinhos a aguardar... Um dia destes faço um post enorme e despacho-os todos:)))
Beijinhos"
Boa semana. Beijinhos
Mariazita
Já ouvi falar de pirilampos, todavia, nunca tive a sorte ver alguns daqueles insectos iluminados, deve ser uma coisa extremamente espantosa.
cumprimentos
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