No bairro predominavam as famílias humildes. Exceptuando um ou outro caso, todas viviam com dificuldades e os brinquedos não abundavam. Brincávamos muitas vezes ao "faz de conta" e, por isso, valorizavam-se as pequenas coisas. Normalmente eu brincava com as vizinhas do apartamento do lado esquerdo, no patamar da escada ou à janela com as vizinhas do prédio em frente. Como as ruas eram estreitas, falávamos e brincávamos de janela para janela, como se estivéssemos na mesma casa.
Ao fim de semana havia menos trânsito de automóveis e as nossas mães permitiam que saíssemos para a rua enquanto elas nos vigiavam das janelas. Jogávamos ao lencinho, à macaca, à barra do lenço, saltávamos à corda ou fazíamos simplesmente danças de roda.
O meu vizinho, como era rapaz, brincava quase sempre na rua. Juntava-se com outros rapazes e saltavam ao eixo, jogavam à carica, ao "bilas" (berlinde), à bola (com uma bola de trapos), ou faziam corridas nas ruas e travessas mais inclinadas, com uns carros que eles próprios faziam, com uma tábua e quatro rodas, parando no fundo da rua, usando os pés cujos sapatos ficavam sem sola num ápice. Os mais endiabrados iam para o Largo do Calhariz, ou para a rua da Bica Duarte Belo, andar na "pendura" nos carros eléctricos ou do elevador.
(Imagem da Net)
Outros momentos que recordo da minha infância passaram-se nos primórdios da televisão em Portugal. Raras eram as pessoas com possibilidades para ter uma TV em casa mas, nas tabernas e nalgumas pastelarias existia um aparelho. A minha mãe, de vez em quando, dava-me uma moedinha para eu ir com as vizinhas à Bicaense, onde assistíamos às séries mais populares da época. A Lassie, Bonanza, Dr. Kildare e outras deixavam-nos de olhos pregados no aparelho, enquanto comíamos tremoços e bebíamos um pirolito.
Mas, nas minhas recordações aparece agora o Jardim de Santa Catarina. Bem pertinho de minha casa, ali passei muitas tardes a brincar com as minhas vizinhas, enquanto as nossas mães , sentadas num banco do jardim, conversavam e faziam renda ou tricô, à sombra do Gigante Adamastor.
Muitas foram as vizinhas e mais tarde as colegas da escola que ali brincavam comigo e, dessa época, recordo para além da parte lúdica, a extraordinária vista que dali se desfrutava.
Ainda hoje quando vou ao bairro gosto de fazer uma visita ao Jardim. No entanto, o riso de meninos e meninas a brincar já não se ouve como outrora. Outros interesses despertam a curiosidade das crianças e os actuais frequentadores deste local também desmotivam as mães para ali se deslocarem com os filhos.
(Imagem da Net)
Obrigada pela sua visita. Volte sempre.
4 comentários:
Bons tempos e que belas recordações.
Por vezes até apetece dizer que hoje os meninos não sabem brincar.~
Jogos de consola, TV e pouco mais.
Olá, Lourdes!
Das brincadeiras não posso falar muito porque na minha rua passava o eléctrico e o trânsito normal.
Do Jardim de Santa Catarina, como já deixei comentário noutro post, a memória é idêntica e tanto se brincava de dia como à noite (no Verão). Bastas vezes lá ia com o meu pai, depois do jantar. Mas, os tempos eram realmente outros. Agora, até de dia, não é muito seguro.
Abraço,
João Celorico
Querida amiga, quantas recordações.
Eram outros tempos, em que brincar na rua era uma constante e só voltavamos para casa á noitinha, não havia medo de alguem nos fazer mal. Hoje o mundo mudou e com essa mudança surgiu também o receio de deixar as crianças andarem na rua, ficam em casa e as brincadeiras de outros tempos vão-se perdendo. É pena, pois como disse o amigo Luís, os meninos de hoje quase não sabem brincar.
bjs do tamanho do infinito
Maria
Velhos tempos, belos dias...
Com tão pouco, eram as crianças felizes, sem tv, e sem os brinquedos caros dos dias atuais.
Veja o blog do meu marido: www.marraioferidosourei.blogspot.com
onde ele conta as histórias da sua infância Na Era do Rádio.
Beijo
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