Quem entra agora na rua do Almada, a rua onde eu cresci, não faz ideia do que foi a vida naquele lugar no tempo em que ali morei. Nessa época, era habitada por muitas pessoas, umas já ali nascidas e outros vindas de variadíssimos locais do país. Na maior parte das habitações viviam várias gerações da mesma família, pois a vida era bastante difícil e não permitia a qualquer um alugar uma casa só para si. Assim, os filhos casavam e ficavam a viver em casa dos pais, onde nasciam depois os respectivos filhos. Havia gente para todas as idades e, como a rua era estreita, quase víamos o que se passava na casa dos vizinhos. A proximidade era tal que todos se conheciam e era vulgar as senhoras irem para a janela falar umas com as outras.
Com tanta gente a morar, havia necessidade de comércio para abastecer os moradores o que tornava a rua muito movimentada.
Logo no início, havia uma padaria onde logo que nascia o dia se começava a vender o pão. Ao mesmo tempo, saíam os padeiros ambulantes carregando um grande cesto cheio de pão quentinho, para levarem a casa das suas freguesas habituais. Mesmo em frente, na Rua Marechal Saldanha, os estebelecimentos sucediam-se. Do lado direito logo no princípio da rua, a pastelaria Orion, propriedade dum conterrâneo nosso, iniciava um conjunto de lojas variadas: uma taberna, uma mercearia, outra taberna e carvoaria e uma drogaria. Na união da rua do Almada com a Marechal Saldanha, um lugar de fruta e hortaliça separava as duas ruas.
- O lugar da fruta -
(Imagem da Net)
Descendo a minha rua, no prédio onde eu morava havia uma barbearia e em frente um alfaiate. Na esquina do quarteirão seguinte havia um depósito/estufa de bananas; em frente uma casa de móveis e logo a seguir uma casa de ferragens. Numa das esquinas com a travessa da Laranjeira, havia uma taberna que era o ponto de encontro de muitos homens da rua e, na esquina com a travessa da Portuguesa havia a mercearia do Sr. Amadeu. Nas ruas transversais havia também carpintarias, marcenarias, vidraceiros,...
- A primeira porta do lado esquerdo era a barbearia -
(Foto da Net)
Todos estes estabelecimentos necessitavam de ser abastecidos. Em determinadas horas do dia, as camionetas provocavam grande congestionamento no trânsito, pois enquanto descarregavam não podia circular nenhum veículo. Para atrapalhar ainda mais os moradores estacionavam os seus automóveis à porta dos prédios. Sendo uma rua estreita, as camionetas invadiam o passeio, obrigando os transeuntes a refugiarem-se no vão das escadas.
Hoje o movimento na rua é pouco. O trânsito automóvel só é permitido aos residentes ou para cargas e descargas rápidas. A população envelheceu, os filhos já não ficam a morar com os pais, os muitos estabelecimentos que existiam fecharam as portas ou deram lugares a cafés e restaurantes. Apenas a mercearia mantém o comércio original, embora tivesse necessidade de se adaptar à actualidade, modernizando-se tanto em aspecto como em móveis e utensílios.
- Encontro da Rua do Almada com a Marechal Saldanha -
As ruas, outrora movimentadas, perderam todo aquele bulício por vezes irritante, mas que significava vida que pulsava e que, apesar de tudo, me deixa muitas saudades.
Obrigada pela sua visita. Volte sempre.
7 comentários:
Lourdes;
Que maravilhoso resumo histórico de uma rua com vida e que deixou marcas em quem lá viveu.
E como é bom retornar às belas lembranças do passado!...
bjs, Lourdes.
Osvaldo
Lourdes:
Pela sua descrição, desfilaram pessoas, desfilou o tempo quando tudo parecia mais cheio de vida. Hoje se compra quase tudo pelas teclas do computador e os vizinhos evitam cumprimentar-se, mesmo no elevador. Ainda bem que essas lembranças, como as que delineou, são eternas.
Beijos
Amiga Lourdes.
Relembrar faz bem.
De Lisboa, conheço apenas mas bem, a Alto de Santo Amaro, a Rua dos Luzíadas, onde vivia a minha ti-vó Maria.
Estive com ela muitas vezes, desde criança.
Passava lá temporadas, mas de lá só saía para a Parede ou Cascais com os amigos e familiares da ti-vó.
Gostei de saber de si.
Beijinhos
Ná
Gosto dessa mistura que se faz nas grandes cidades, do ontem e do hoje. "Lisboa menina e moça"!
Olá, Lourdes!
Não recordo essas ruas, porque eu era mais, Calçada do Combro, trav. da Condessa do Rio e daí para baixo. No entanto o Jardim de Santa Catarina era, bastas vezes o meu local de brincadeira e de observação privilegiada do Tejo e seu movimento, tanto no Verão como no Inverno, em que ele se mostrava mais alterado.
Abraço,
João Celorico
Olá Lurdes.. Eu morei na rua do almada no 33. Junto a taberna do Amadeu.. Q saudades
Olá Lurdes.. Eu morei na rua do almada no 33. Junto a taberna do Amadeu.. Q saudades
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