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quinta-feira, 11 de março de 2010

Histórias da Serra V

Ousar é perder o equilíbrio momentaneamente. Não ousar é perder-se.
(Soren Kierkegaard)

(Foto: Rouxinol de Pomares)


A visita do tio à aldeia, veio precipitar o futuro daquele rapaz. Também o tio fora um inconformado com a sorte de ter nascido no seio duma família humilde, algures numa linda aldeia, mas longe do progresso. Rumara aà capital, onde conseguira singrar e onde fazia  parte da sociedade de várias pastelarias lisboetas.
Ouvindo os queixumes da cunhada que lamentava  a vida que o filho escolhera,  calcorreando montes e vales, muitas vezes de noite e sozinho, no seu percurso entre a aldeia e a Barroca Grande, aconselhou-a a deixar o rapaz ir para Lisboa,  para junto do pai. Com apenas 15 anos, tinha tempo para arranjar algum emprego, como moço de recados  e aprender a atender ao balcão numa qualquer pastelaria.
E, foi assim que após um curto período de férias do pai na aldeia, partiu na sua companhia, rumo a Lisboa.
A viagem foi uma aventura. Começou com o percurso até à sede de freguesia, local onde iria apanhar a camioneta da carreira que o conduziria a Coimbra onde  o combóio o levaria para Lisboa.
Já em Pomares despediu-se da família e foi o primeiro a tomar o seu lugar, indo aninhar-se bem junto a uma janela. Olhou para fora e, nesse momento,   vacilou. Lá fora, a mãe lavada em lágrimas, olhava fixamente para ele dizendo-lhe adeus. Mas, a camioneta arrancou e aquela imagem de sofrimento esfumou-se na nuvem de pó que se formou na estrada de terra batida.
Aos poucos,  a serra ficava para trás e, pelos seus olhos passaram inúmeras povoações e terras de cultivo tão diferentes da sua. Ao chegar a Coimbra, o seu espanto aumentou perante tamanha povoação e movimento. Como seria Lisboa, se ainda era maior?
Ao entrar na  estação dos combóios, os seus olhos arregalaram-se de espanto, perante aquele transporte tão estranho e tão comprido. Seguiu pela gare fora, curioso para ver onde começava  e, quase se perdeu no meio de toda aquela multidão. O pai agarrou-o pelo braço e entraram numa das carruagens onde se sentaram num banco de madeira. Finalmente  o combóio partiu. Durante algum tempo, tentou reter as imagens que tão rapidamente passavam diante dos seus olhos mas, o som dos acordes duma  concertina transportou-o para dentro da carruagem. Num dos bancos da frente, um grupo de homens com os seus instrumentos musicais começou a tocar e, até Lisboa foi um desfilar de músicas e cantares que  lhe tornaram o caminho mais curto.
Finalmente, chegaram. Pegaram nas malas, abandonaram o combóio e atravessaram a estação de Santa Apolónia. Ao chegar à rua viveu, pela primeira vez, a grande diferença entre a sua pequena aldeia onde todas as pessoas o conheciam e estimavam e aquela cidade onde, de repente, ficou rodeado   por  desconhecidos, que por eles passavam apressados, indiferentes à sua presença.
Mas, já que chegara até ali, havia que continuar. Meio atordoado, ergueu a cabeça e enfrentou o futuro.


 
Obrigada pela sua visita. Volte sempre.

2 comentários:

Flora Maria disse...

Gostei muito da história e queria conhecer o final...

Beijo

Flora Maria disse...

Repassei para você o Desafio que recebi. Dá uma olhada na lateral do meu blog e siga as instruções.

Espero que goste.

Beijo