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segunda-feira, 9 de março de 2009

Tradições da Serra: Rezas

Conhecimento real é saber a extensão da própria ignorância.
(Confúcio)



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No capítulo das ancestrais crenças populares muito havia a escrever, pois o nosso país é fértil nesta matéria, mas o meu conhecimento sobre o o assunto é parco. A região do Açor não foge à regra do país e, antes de recorrer ao barbeiro ou ao médico, recorria-se às rezas.
A minha avó conhecia algumas que a mãe lhe ensinara e, ainda me lembro de a ver a fazer rezas, tentando aliviar o sofrimento de algumas pessoas do Sobral Magro.


Para o estortagado:


Quando alguém tinha algum problema de ossos ou dava algum mau jeito, arranjava-se um púcaro e uma bacia com água, um trapo, uma agulha e linha.
Com a linha enfiada na agulha, davam-se pontos no trapo enquanto se repetia três vezes a seguinte reza :

- Que cozo?
- Carne quebrada nervo torto.
- Por isso mesmo é que te coso, pelo poder de Deus e da Virgem Maria em louvor de milagres , o Santo António e o S. Gonçalo em louvor de S. Silvestre façamos coisa que preste, Nosso Senhor Jesus Cristo seja o nosso Divino Mestre.Pai Nosso, Avé Maria, Glória, Salvé Rainha.


Para a erisipela:

A Erisipela é uma doença de pele que se manifesta com o aparecimento de pequenas bolhas de cor avermelhada.
Para se tratar utilizava-se um terço, uma faca e um ramo de figueira que se molhava em azeite e se aplicava na parte doente fazendo cruz e rezando:


Nossa Senhora subiu à Serra e encontrou a Erisipela e perguntou-lhe:
- Para onde vais negra vermelhorra?
- Eu não sou negra e vermelhorra, eu sou branca e coradinha, vou para a terra, comer carne, chupar sangue, moer osso e dar face à terra fria.
Nossa Senhora respondeu-lhe:
- Pois eu digo-te que não vais à terra comer carne, chupar sangue, moer osso e dar face à terra fria.
Porque eu com estas continhas do terço haverei de te atalhar com esta faca te cortarei, com estes ramos de figueira te queimarei e ao mar te deitarei, onde não sintas sinos a tocar e galos a cantar.
(Por fim estas palavras eram repetidas três vezes e rezava-se uma Salve Rainha).

Para o Cobrão:


O Cobrão é também uma doença de pele, hoje conhecida pelo nome de Zona e manifestava-se sob a forma de borbulhas que provocam muita comichão e dores.
Dizia-se que aparecia devido a alguns bichos rastejantes( cobras, osgas, lagartos ou lagartixas ) passarem sobre a roupa que se encontrava a secar e lá deixarem a sua peçonha ( veneno) que depois provocava a doença.
Para o tratamento, arranjavam-se umas palhas de alho que se colocavam sobre um cepo. e se cortavam ao mesmo tempo que se rezava três vezes:


Que corto?


Cobra ou cobrão,
Sarda ou sardão,
Sapo ou sapão,
A tudo isso é que eu corto.
Aqui te corto a cabeça (cortava do lado esquerdo das palhas de alho)
o meio (cortava o meio)
E o coração (cortava do lado direito)


De seguida queimavam-se as palhas até ficarem reduzidas a cinza. Juntava-se azeite, amassava-se e colocava-se a pasta que se formava sobre o local doente, tapando-se com uma ligadura.


Para além destas, muitas outras rezas faziam parte das tradições da população serrana. Não esgoto aqui o assunto pois voltarei , numa próxima ocasião, a escrever sobre este tema.





Obrigada pela visita. Volte sempre.













2 comentários:

UBIRAJARA COSTA JR disse...

Maravilhosas tradições, Lourdes.
Pelo interior do Brasil, lá pelos sertões, nos serrados, nas matas da Amazônia, certamente ainda se curam através das rezas. Mesmo por aqui ainda encontramos benzedeiras...
Parabéns por esta postagem.
beijos

Lourdes disse...

É verdade, Dulce. Aqui em Portugal, em especial nas zonas do interior, também ainda utilizam estas práticas como primeiro recurso.
E o certo é que, às vezes, fosse lá por que razão fosse, as pessoas melhoravam e já não gastavam dinheiro no médico e nos medicamentos.
Beijos