A povoação de São Paio de Gramaços tem as suas raízes
na pré-história, segundo os importantes vestígios arqueológicos
encontrados na Quinta da Torre, mesmo junto ao povoamento. Do
período Paleolítico, estavam presentes no solo da quinta três
raspadeiras em xisto. Do período Neolítico (5000 - 2000 a.C.), os
vestígios encontrados eram mais numerosos : dois machados de basalto,
um objecto semelhante a pisa-papéis cuja utilidade ignoramos e
quatro achas polidas.
Além dos testemunhos pré-históricos, outros objectos foram encontrados na Quinta da
Torre, a quatro ou cinco metros de profundidade. Da civilização
romana, foram recolhidos dois fusos de tear, um pisa-papéis, uma mó
grande, perfurada ao centro, esta ainda não classificada com rigor,
quatro mosaicos de argila, com fendas de encaixe, utilizados em
pavimentações ; inúmeras tégulas a denunciar, bem como os mosaicos,
que esse terreno foi urbanizado pelos romanos, que aí ergueram
casas. Outros vestígios a este hipótese : uma pá de meio metro de
base e o segmento com mais de 25 centímetros de diâmetro. Também
foram encontrados vestígios romanos numa quinta contígua, que
pertenceu à D. Josefina da Fonseca.
Nesta Quinta da Torre, foram ainda recolhidos pedaços de uma lança
que o arqueólogo D. Fernando de Almeida classificou de moçárabes.
Constata-se que S. Paio de Gramaços é uma povoação antiquíssima
tenso sido habitada já na Idade da Pedra e posteriormente, que se
saiba, pelos romanos, visigodos e árabes, além de cristãos,
evidentemente. Exceptuando Bobadela e Lourosa, nenhuma outra
povoação do concelho apresenta uma história documentada tão longa e
tão rica.
Depois da presença de árabes e visigodos segue-se um período
obscuro. A completa cristianização da freguesia e a consequente
integração no território nacional deu-se com a conquista de Seia, em
1056, por Fernando Magno.
Em meados do século XII, no tempo
de Afonso Henriques (?), aparece Dom Chavão, rico-homem das terras
de Seia, com residência habitual em Gramácios ou Garamácios .
Era figura do maior destaque, o representante do rei no vasto
território de Seia ; e como tal, "tinha os direitos de padriado
eclesiástico na vizinha paróquia de Sampaio de Garamácios ou
Gramaços", como informa o historiador e investigador Professor
Doutor António de Vasconcelos.
Nesse tempo, a povoação era constituída apenas por um pequeno
agrupamento de casais implantados na encosta suave e luxuriante duma
colina, dominada do cinto do monte por uma pequena e devota igreja
dedicada ao Mártir S. Pelágio ou S. Paio.
As Inquirições de D. Afonso III em 1258 dão-nos conta que São
Paio de Gramaços povoada o foro de cavalaria, que na alta Idade
Média nacional, a igreja de S. Paio (e parece que também a vila)
eram de D. Estevão Anes, "pretor" ou alcaide da Covilhã ; no
entanto, a terra e o dono estavam sujeitos às leis de Seia.
A terra de Seia abrangia os actuais concelhos de Seia (excepto
Vide,
Teixeira e Alvôco), de Oliveira do Hospital e Tábua (quase
inteiramente), Paços da Serra e Vila Nova de Tázem, no de Gouveia,
Coja e Vila Cova, no de Arganil. Em meados do séc. XIV a terra de
Seia englobava as seguintes paróquias, hoje enquadradas no concelho
de Oliveira do Hospital : S. Pedro de Lourosa, Santa Maria da
Bobadela; S. Cristóvão de Nogueira, Oliveira do Hospital, S. Pedro
de Travanca, S. João de Lagos, S. Miguel de Meruge e Santa Maria de
Lagares.
Em meados do século XVI (1543) foi constituída na igreja Paroquial a
"Santa Irmandade do Mártir S. Pelágio", na qual D. João III se
filiou e se declarou "Protector e Juiz Perpétuo", com estatutos
próprios e grandes privilégios concedidos pelo Papa Júlio III (1550-1553).
No séc. XIX, os exércitos franceses de Massena, em retirada para
Espanha, praticaram crimes contra uma população ordeira e indefesa.
(in A 3.ª Invasão Francesa e as Terras de Concelho de Oliveira do
Hospital, do Rev.ª padre Laurindo M. Caetano). Contra o Pe José
Joaquim Garcia Abranches, então cura de S. Paio do Codeço, no seu relatório de 25 de Abril de 1811, que na retirada
os soldados franceses permaneceram três dias e quatro noites durante
os quais cometeram as maiores atrocidades, deixando a população na
miséria. O mesmo sacerdote faz uma descrição minuciosa de todos os
desacatos e crimes que passamos a sintetizar : sete mortos entre a
população civil, onze feridos, sete casas incendiadas, das quais nada
restou além das paredes ; roubos de toda a ordem na igreja e fora
dela, só tendo escapado as imagens nos seus lugares. Ainda hoje se
podem ver vestígios do incêndio na Casa da Família Vasconcelos, casa
onde nasceu o Prof. Dr. António Garcia Ribeiro de Vasconcelos.
O topónimo Gramaços deriva de "Garamaços", do latim "Garamaz".
A freguesia era designada por S. Paio
do Codeço, ou do Codesso, nome genérico de vários arbustos leguminosos, ao fim do
séc. XVI e até meados do séc. XVII, como o mostra os registos
paroquiais do Arquivo da Universidade de Coimbra. Será que os dois
nomes eram usados? O arquivo passa depois a chamar a freguesia S.
Paio de Gramaços. Mas oficialmente, só em 28 de Julho de 1919
passou a ter a actual denominação.
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