Acordei num daqueles dias meios encobertos e frios em que a preguiça, tomou
conta de mim. Fiquei junto à janela, no silêncio de casa, espreitando pelas
vidraças. Deixei os meus pensamentos partir em busca das minhas mais doces recordações.
Logo a saudade me veio fazer companhia. Sim, porque nestas alturas, a saudade é
sempre boa companheira duma alma
nostálgica, sonhadora e sensível.
Percorro os caminhos do meu passado e vejo-me na minha infância.
Não tinha computadores, nem televisão, nem brinquedos ou jogos. Tudo
tinha que ser inventado. Na Ribeira Mourísia, na fazenda dos meus avós, não
tinha outras crianças com quem brincar e tudo era muito tranquilo. Vestia-me com as roupas da minha tia e imitava-lhe os movimentos para parecer adulta. As penedas
mais lisas serviam de casa de bonecas.
Uma boneca de trapos feita pela minha avó era a minha única companhia. Amassava terra com água para fazer bolinhos e qualquer pedrinha circular servia de prato, sendo
os móveis umas pedras maiores com formatos diversos. Era tudo de “faz de
conta”.
Mais tarde, após regressar das suas fazendas, a garotada juntava-se no largo
da povoação e a tranquilidade que reinara na aldeia, durante a maior parte do
dia, desaparecia como por encanto, dando lugar
a gritos e risadas estridentes, que
ecoavam alegremente pelas ruas e barrocas.
Então, as imagens começaram a desfilar na minha lembrança e pararam no Largo da Barroca no Sobral Magro. Lá apareceram todos os meus amigos de criança. Jogávamos "à penamalha", "à rolha", ou "às escondidas". Aproveitávamos o lavadouro vazio, uma em cada canto e consegui ouvir a voz da Hortensita gritar: " dá-me lume". Respondeu logo a saudosa Isabel: " vai àquela casa que te fume". E nós corríamos e gritávamos tentando trocar de canto, umas com as outras, sem sermos apanhadas. Eram as brincadeiras duma época em que não havia dinheiro para brinquedos mas, em que convívíamos e divertíamo-nos muito com pequenas coisas. E, não éramos menos felizes...
Então, as imagens começaram a desfilar na minha lembrança e pararam no Largo da Barroca no Sobral Magro. Lá apareceram todos os meus amigos de criança. Jogávamos "à penamalha", "à rolha", ou "às escondidas". Aproveitávamos o lavadouro vazio, uma em cada canto e consegui ouvir a voz da Hortensita gritar: " dá-me lume". Respondeu logo a saudosa Isabel: " vai àquela casa que te fume". E nós corríamos e gritávamos tentando trocar de canto, umas com as outras, sem sermos apanhadas. Eram as brincadeiras duma época em que não havia dinheiro para brinquedos mas, em que convívíamos e divertíamo-nos muito com pequenas coisas. E, não éramos menos felizes...
Lá estava o "Coneca" encostado à parede duma casa, rindo e comentando as nossas brincadeiras com o seu modo de articular as palavras, para muitos impercetível. "Fó Mialu, fó. Aquê malano panha ti" (Foge Maria de Lurdes, foge. Aquele malandro apanha-te).
Tudo parecia tão real que, por momentos, me pareceu ouvir o som da minha própria voz chamando: “Avó, avó!”.
Senti então uns bracitos que me envolveram carinhosamente e percebi que era a voz da Leonor que me chamava
“Avó, avó! Que estás a fazer aí a olhar para a rua? Anda brincar comigo!”
Foto: Net
Obrigada pela sua
visita. Volte
sempre.
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