A caminhada que fiz com alguns
conterrâneos levou-me ao Soito da Ruiva. Para além de saudável mexeu também com as
minhas emoções pois trouxe-me à lembrança os tempos de juventude em que
acompanhava a minha tia que vendia peixe, de terra em terra.
Já no Soito da
Ruiva, as emoções continuaram com uma visita à casa-museu daquela aldeia que há
muito desejava conhecer. Não podia perder a oportunidade e, contando com a simpática
ajuda do Sr. António Neves que nos recebeu e serviu de cicerone, lá fomos.
É uma casa pequena e original.
Foi cedida por um Soitorruivense que, desinteressadamente, pôs ao serviço da
comunidade este espaço, o mais genuíno dos que até hoje visitei.
Pequena como era a maior parte das
casas das aldeias da serra. A riqueza
das famílias serranas avaliava-se em função das terras de cultivo que se tinham
e não pelas habitações. A minha avó costumava dizer: “ Casa que não caibas e
fazenda que não saibas”.
Ao entrar tive a sensação de recuar no tempo. O local é dum realismo tal, que parece ainda habitada por pessoas de carne e osso. No seu lugar, vários bonecos trajados a rigor, à moda do início do século passado, eram uma cópia fidedigna duma realidade que ainda conheci e que estava bem guardada bem lá no fundo das minhas recordações.
Ao entrar tive a sensação de recuar no tempo. O local é dum realismo tal, que parece ainda habitada por pessoas de carne e osso. No seu lugar, vários bonecos trajados a rigor, à moda do início do século passado, eram uma cópia fidedigna duma realidade que ainda conheci e que estava bem guardada bem lá no fundo das minhas recordações.
Logo à entrada, um pequeno
corredor donde sobressai a escada para o forro (sótão) sob a qual estava o molho de lenha, chamiças e gravetos, aproveitando o
espaço vago.
Logo a seguir a cozinha funda, assim chamada porque a fogueira se fazia num local rebaixado em
relação ao sobrado, que por ficar mais alto, era aproveitado como banco onde as
pessoas se sentavam ficando com os pés à altura da fogueira.
Num dos lados a
cantareira, os cântaros e loiças. Nas paredes e no chão, estrategicamente colocados
vários utensílios de uso diário, utilizados na época. Sentado no sobrado , um
boneco dava mais realismo à cena.
Voltando ao corredor entrámos na
sala. Poucos móveis como era usual e muitos e variados objectos da época. Como
as gentes da serra sempre foram
profundamente religiosas, em todas as casas havia quadros com imagens de santos
ou cenas bíblicas, possivelmente compradas em dia de “Romagem” no Vale de
Maceira. Como não podia deixar de ser lá estavam quadros nas paredes representativos da grande fé dos habitantes
da região.
Num canto, um casal de
bonecos simulava os donos da casa que nos recebiam com a habitual hospitalidade
serrana. A senhora devia ser costureira poisa máquina de costura bem
antiga sobressaía junto da pequena janela. Também não faltam os brinquedos e material
escolar das crianças.
A sala servia também de passagem
para os quartos onde pouco mais havia que uma cama e um banco sobre o qual se colocavam alguns objectos pessoais.
Na banqueta da janela, o candeeiro a “pitrol” que iluminava o local e um despertador que garantia o despertar
para o caso de serem traídos pelo sono ou pelo cansaço.
A cama
estava feita para dias especiais como acontecia quando recebiam alguma visita
ou o médico em caso de doença muito grave. Neste, havia um lavatório
apetrechado com um jarro e um balde, que servia para a higiene diária de toda a
família. De parede a parede uma corda suportava
a pouca roupa que o casal possuía.
Num outro quarto mais pequeno, as
arcas, as mantas e toda uma parafernália de materiais diversos
completavam esta mostra da vida dos nossos antepassados.
Foi uma visita muito instrutiva e proveitosa. Na nossa
companhia havia jovens que nesta casa, cópia simples e fidedigna das habitações
dos seus avós, percorriam animadas as várias divisões, comparando a dura vida que eles tiveram com a que eles vivem na
actualidade.
Para mim e para os outros adultos foram momentos de
nostalgia que nos trouxeram à lembrança as nossas vivências de criança e, sobretudo
as pessoas com as quais privámos em criança, que tinham tão pouco e davam tanto
valor ao pouco que tinham.
Esta casa era tudo o que eu
estava à espera. Sempre ambicionei uma assim
para o Sobral Magro pois sempre foi meu desejo deixar
aos nossos descendentes um pedaço elucidativo da história dos nossos
antepassados.
Como não é coisa que possa fazer sozinha, vou-me contentando em
acompanhar as ideias que os amigos do Soito da Ruiva vão pondo em prática e com
as quais eu me identifico.
3 comentários:
É muito interessante para ver estes artefactos da vida quotidiana, pois retratavam a história de gente comum que é tão preciosa como a vida palaciana
Cumprimentos .
Emocionante visitar esse Museu familiar, Lourdes !
Vi no sul do Brasil alguns assim, mostrando a vida dos imigrantes que aqui chegaram.
Também sonho que minha cidade tenha um museu mostrando como viviam os primeiros moradores daqui, mas isso ainda não existe.
Beijo
Lourdes, boa noite!
Hoje, a passear por aqui, encontrei este post riquíssimo que apreciei minuciosamente. As folhas de Jornal recortadas a imitar panos de renda, fizeram-me lembrar as que a minha avó recortava e que, depois colocava nos móveis toda contente.
Eram tempos difíceis, viviam sem luxo, com tão pouco mas, eram felizes. Agora que temos tudo, na maioria das vezes estamos insatisfeitos.
Beijinho e muito obrigada por esta partilha que adorei!
Ana Martins
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