Pela ladeira vira descer apressada uma jovem que se precipitou de rompante pela porta da escola. Vinha afogueada e pelo seu semblante percebi que algo acontecera. Impaciente, interroguei-a para saber o porquê daquela visita inesperada.
Lá me foi explicando que a irmã, grávida no fim do tempo, estava na hora de dar à luz e o médico, que me conhecia de pequenina, me mandara chamar para o caso de necessitar de ajuda, ou se fosse preciso algum medicamento eu poder ir à farmácia, pois era a única pessoa na aldeia que tinha carro.
Como estava quase na hora do almoço saímos um pouco mais cedo e lá fui com a mensageira estrada acima, dizendo mal da minha vida pois nunca tinha tido muita coragem e afligia-me sempre que via sangue.
À chegada o Dr. Armando deu-me algumas indicações e eu fiquei na cozinha pedindo a todos os santinhos para que tudo corresse bem e eu não tivesse que assistir ao parto.
Um choro de bebé despertou-me dos meus pensamentos. Corri para a porta do quarto e observei os movimentos rápidos do doutor mas, pelo seu semblante preocupado, apercebi-me que algo correra mal.
O Dr. Armando saiu para o corredor e pôs-me a par do sucedido. O recém-nascido apresentava uma malformação congénita onde se via uma fenda numa vértebra pondo a medua a descoberto (espinha bífida aberta). O caso era muito grave e aquele pequeno inocente teria pouco tempo de vida. Fiquei completamente paralisada perante tal evidência.
Os pais logo pensaram em baptizar o bebé e quiseram que eu fosse a madrinha, ao que eu acedi prontamente. Alguns dias depois do baptismo, acabou por falecer deixando os pais completamente destroçados.
Quis o destino que a minha mãe fosse sepultada numa campa mesmo ao lado do local em que ele fora sepultado. Ainda hoje, quando visito a sepultura da minha mãe, recordo este acontecimento que ficou tristemente marcado na minha memória e deposito sempre no local algumas flores em memória deste meu afilhado.
Obrigada pela sua visita. Volte sempre
Obrigada pela sua visita. Volte sempre
5 comentários:
Que história triste Lourdes...Que pena que o bebê morreu.
Triste, mas pleno de afeto. Um abraço com respeito, Yayá.
Aqui na aldeia não havia médico e eram as curiosas que faziam estes trabalhos.
Nos os quatros apenas tivemos essas famosas senhoras e tudo correu bem.
A história desse parto é com um final mais triste, mas ainda assim a madrinha nunca irá esquecer o afilhado.
Quando perdemos os nossos pais ficamos orfeões, perdemos o nosso consorte enviuvamos ,mas não existe uma palavra quando perdemos um filho.
Um abraço
O tempo passa, mas deixa suas marcas...
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