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segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Recordações

A quadra festiva que atravessamos, em que a família e os amigos se juntam, é propícia a recordações. Umas boas outras menos boas, mas o que é certo é que por nós passam imagens do passado que fazem sorrir ou derramar uma lágrima que não conseguimos controlar.
Foi o que aconteceu comigo hoje. Lá fora chovia e eu, aqui em casa, fui acometida duma enorme nostalgia que me levou a recordar  os amigos e vizinhos com quem convivi na meninice.
Vi o prédio onde morava e ali, mesmo na minha frente, começaram a desfilar algumas das personagens que fizeram parte dessa época da minha vida.


Eu e os meus pais habitávamos o lado direito do rés-do- chão do prédio. Do lado esquerdo, a Deolinda, o Fernando e os três filhos (duas meninas e um rapaz) eram quase como nossa família. Separáva-nos o patamar da escada que servia de passagem para os andares superiores e também local de brincadeira com as meninas que habitavam no prédio. Nessa época as meninas tinham uma educação diferente da dos rapazes. Elas brincavam mais em casa, eles mais na rua. Assim, a Nanda e a Milú eram as minhas melhores amigas e delas restam apenas as recordações duma infância de dificuldades mas também de muita alegria. A Nanda foi acometida de uma doença fatal e a levou muito cedo. A Milú foi ama do meu filho nos dois primeiros anos de vida. Foi viver  para a Amadora pouco tempo depois de eu ter mudado para o Laranjeiro e perdi-lhe o rasto.
O primeiro andar era habitado pela D. Maria e o filho. A senhora era costureira e o filho estudava. Eu gostava muito de estar na sua companhia, admirando a forma hábil como ela fazia  vestidos maravilhosos e eu jurava a mim mesma que um dia usaria vestidos assim.
Mas, quando o filho deixou de estudar, conseguiu uma boa colocação nos caminhos-de-ferro em Angola e eles para lá partiram. Foi com grande tristeza que fui com a minha mãe despedir-me deles ao Cais da Rocha do Conde de Óbidos, onde o Vera Cruz os conduziu para um destino distante. Durante algum tempo, ainda trocou correspondência com os ex-vizinhos mas, aos poucos, foi escasseando até que deixámos de saber deles.
A inquilina do segundo andar era  viúva dum militar muito influente na época. Com ela moravam uma filha, mãe solteira, e uma neta mais ou menos da minha idade.
A casa era faustosa. Muito bem mobilada e com uns candeeiros que me magoavam a vista de tanto brilho, deixava-me maravilhada.
Dizia-se que tinham frequentado os salões da alta sociedade da época onde viveram  momentos de glória. Como na altura eram os homens que garantiam o sustento da casa, quando o senhor faleceu, a família entrou em decadência. No entanto, mantiveram sempre as aparências. Era vê-las a sair do prédio e subir a rua muito bem vestidas, desfilando as suas peles, de cabeça bem erguida,  irrepreensivelmente penteadas, aparentando um status que já não possuíam. Apesar de ser mãe solteira e ser alvo das conversas maldosas da vizinhança, a filha casou e abandonou o bairro levando consigo a família. No bairro, nunca mais se soube delas.
Finalmente, no terceiro andar moravam as pessoas mais idosas, a  D. Emília e o Sr. Maximino que eram naturais duma aldeia próxima da dos meus pais.  Entre as duas famílias existiu sempre uma grande cumplicidade e, como não tinham filhos,  a D. Emília  "adoptou-me". Passava muitas tardes em minha casa,  conversava com a minha mãe, fazia renda e  recordava os seus tempos de aldeia. Fazia-me as vontades todas e cheguei a ficar em sua casa, em alturas que os meus pais tinham que se deslocar à aldeia e eu não podia faltar às aulas. Após a reforma do Sr. Maximino, regressaram à aldeia natal, onde passaram o resto dos seus dias.
E, de recordação em recordação, a tarde foi passando e as imagens permaneceram no meu pensamento o resto do dia.


Obrigada pela sua visita. Volte sempre.

7 comentários:

Maria do Céu disse...

OLá Lourdes

Para si e familia votos de um Feliz Natal, que o Ano Novo lhe sorria com as maiores venturas.

Beijinho

alfacinha disse...

um bom vizinho é melhor do que um amigo distante
cumprimentos de Antuérpia

Anónimo disse...

Querida amiga Lourdes!

Recordar é viver!

Feliz Natal

Feliz Natal

Chegou o Natal

Chegou Natal
Sem estrondos,
Sem alaridos
Nem algazarra …
Simplesmente chegou.
Com alguma timidez,
Envolto no acanhamento de um tempo
Que se faz ligeiro,
Embrulhado em mantos
Tecidos de muitas e cores.
Mas o Natal chegou.
Sem a intimidade de ontem,
Mas com a alegria das festas
E manifestações de “causas e coisas”
Lembrando a época, um tempo
O teu regaço.
Mas o Natal chegou,
Sem a solidariedade sábia de ontem,
Mas com a profusão de vontades
Voluntariosas
Briosas
E tão caprichosas…
Mas o Natal chegou
Com os sabores da tradição
Em mesa posta,
Toalha branca, alvura
Rabanadas, bolos de menina
Coisa fina.
Sonhos doces, formigos e mexidos
Em forno lento
E ao relento das vontades
Alicerçadas no tempero da solidariedade.
Bacalhau, batata, couve da horta
Agitação garrida,
Mimosamente tecida…
Desejada em cada porta.
Bolo-rei, filhós, vinho quente
Amor presente
Em cada rosto,
No mimo posto
Na tua chegada.

Mas o Natal chegou!

Natal de 2010
Maria José Areal

Beijinhos
.

Paloma disse...

LOURDES, do mesmo jeito, todo Natal
faço, em pensamento, uma retrospec-
tiva dos Natais passados e vem a
lembrança pessoas, que de alguma
forma, passaram pela minha vida.

Beijos e um Feliz Natal

jurisdrops disse...

Lourdes:
Acompanhar suas recordações foi como ver todas aquelas pessoas reunindo-se no casario, encontrando-se, conversando. Natal faz mesmo lembrar esses momentos de companhia.
Aproveito para desejar-lhe um santo Natal e um 2011 muito harmonioso.
Beijos

Unknown disse...

Olá Colega!
Muito obrigada pelo carinho de sempre.
Aproveito e desejo a você e toda sua família um FELIZ NATAL e UM PROSPERO ANO NOVO.
Que seus sonhos se realize nesse ano que vai nascer.
Muitas saúde e tudo de bom.
Abraços com carinho.
Marli

celiacroche disse...

Obrigada pela força e animo não olho mais para traz agora é seguir em frente mas melhores dias virão agradeço o carinho do seu comenterio obrigada bj... e FELIZ NATAL.