O dia amanheceu com Sol maravilhoso mas muito frio. Aos poucos o céu escureceu e, sem vontade de sair de casa, acabei por ficar no Facebook a trocar mensagens com amigos da minha aldeia e de aldeias vizinhas, que se foram juntando durante o desenrolar da conversa. A língua portuguesa é muito rica e, para o mesmo objeto aparecem vários vocábulos conforme a região. Mesmo em localidades vizinhas, aparecem palavras diferentes.
Daquela conversa, surgiu a ideia de se fazer um dicionário de termos próprios de cada região para um determinado objeto. Gostaria de tornar este tema um pouco mais abrangente e, como o Açor também é lido por amigos do Brasil, seria ainda mais enriquecedor se também pudesse alargar o tema ao português do Brasil.
Se resultar, penso abrir um novo blog, destinado a este assunto.
Hoje começo com um dos animais mais importantes das povoações da serra do Açor. O porco.
Só este animal trouxe-me à lembrança várias palavras algumas em desuso.
Na minha aldeia, o Sobral Magro, ao porco chamavam-lhe bácoro. No entanto de região em região o animal muda de nome.
Porco, bácoro, corrucho, tó, marrã, suíno, todas as palavras se referem a este mesmo animal.
Todas as famílias tinham um ou dois que compravam na feira ainda pequenos. Eram alimentados e engordados durante o ano num curral, onde o chão era periodicamente coberto com mato, evitando assim o contacto do animal com os dejectos. Alguns currais tinham à porta um átrio também ele coberto de mato a que se dava o nome de quintã e onde o animal se podia deslocar ao ar livre. A mistura que se formava sobre o solo, ia-se decompondo e, ao fim de alguns tempos era retirada do curral, para acabar a sua decomposição ao ar livre formando o esterco que era aproveitado depois para adubar as terras de cultivo. Em outros locais do país os porcos viviam em pocilgas e noutras ao ar livre.
Quase todas as sobras eram aproveitadas para a sua alimentação e juntavam-se com água para fazer a lavagem que era cozinhada à lareira, num caldeiro.
Normalmente a lavagem era composta também por farinha, botelha partida em pedaços, batatas, folhas de hortaliça,... O animal comia de tudo.
A lavagem era transportada no mesmo caldeiro ou, como ele estava todo enfarruscado da lareira, despejava-se numa ferrada e levava-se então para o curral dos porcos onde se colocava numa pia de granito ou de madeira.
O porco é um animal muito mexido e frequentemente abriam brechas nas paredes do curral com o focinho e revoltavam o mato todo. Para evitar que tal acontecesse era-lhe colocado um arganel no nariz (uma espécie de argola metálica presa nas narinas) e, quando ele esfoçasse sentia dores, levando-o a tornar-se mais calmo.
Algumas das palavras que utilizei são termos usados na minha aldeia mas, a língua portuguesa é tão rica que, a poucos quilómetros de distância, o nome de determinado objecto tem outro significado e o objecto tem outro nome. Vejamos só em algumas palavras relacionadas com o porco:
Porco é o nome mais conhecido do animal. Mas, pode chamar-se também: bácoro, corrucho, tó, marrã, suíno,... conforme a zona do país.
Botelha é uma abóbora.
Esterco - estrume
Lavagem é o nome dado, na minha aldeia, à mistura de alimentos que se cozinham para a alimentação do porco. Poucos quilómetros ao lado chamam-lhe vianda mas na região do Sardoal chama-se também lavadura.
Espero agora mais algumas designações, usadas noutras regiões, para estas palavras.
Se resultar, penso abrir um novo blog, destinado a este assunto.
Hoje começo com um dos animais mais importantes das povoações da serra do Açor. O porco.
Na minha aldeia, o Sobral Magro, ao porco chamavam-lhe bácoro. No entanto de região em região o animal muda de nome.
Todas as famílias tinham um ou dois que compravam na feira ainda pequenos. Eram alimentados e engordados durante o ano num curral, onde o chão era periodicamente coberto com mato, evitando assim o contacto do animal com os dejectos. Alguns currais tinham à porta um átrio também ele coberto de mato a que se dava o nome de quintã e onde o animal se podia deslocar ao ar livre. A mistura que se formava sobre o solo, ia-se decompondo e, ao fim de alguns tempos era retirada do curral, para acabar a sua decomposição ao ar livre formando o esterco que era aproveitado depois para adubar as terras de cultivo. Em outros locais do país os porcos viviam em pocilgas e noutras ao ar livre.
Quase todas as sobras eram aproveitadas para a sua alimentação e juntavam-se com água para fazer a lavagem que era cozinhada à lareira, num caldeiro.
Normalmente a lavagem era composta também por farinha, botelha partida em pedaços, batatas, folhas de hortaliça,... O animal comia de tudo.
A lavagem era transportada no mesmo caldeiro ou, como ele estava todo enfarruscado da lareira, despejava-se numa ferrada e levava-se então para o curral dos porcos onde se colocava numa pia de granito ou de madeira.
O porco é um animal muito mexido e frequentemente abriam brechas nas paredes do curral com o focinho e revoltavam o mato todo. Para evitar que tal acontecesse era-lhe colocado um arganel no nariz (uma espécie de argola metálica presa nas narinas) e, quando ele esfoçasse sentia dores, levando-o a tornar-se mais calmo.
Algumas das palavras que utilizei são termos usados na minha aldeia mas, a língua portuguesa é tão rica que, a poucos quilómetros de distância, o nome de determinado objecto tem outro significado e o objecto tem outro nome. Vejamos só em algumas palavras relacionadas com o porco:
Porco é o nome mais conhecido do animal. Mas, pode chamar-se também: bácoro, corrucho, tó, marrã, suíno,... conforme a zona do país.
Botelha é uma abóbora.
Esterco - estrume
- Caldeiro -
Imagem: http://masaedo.blogspot.com
O caldeiro é um recipiente cilíndrico onde, se cozinha a lavagem mas, numa povoação bem próxima, utiliza-se o mesmo objecto para ordenhar as vacas lá para dentro e tem o nome de ferrada.
Por sua vez, a ferrada na minha aldeia é um recipiente diferente e é também utilizado para transportar os alimentos para os porcos.
- O mesmo recipiente usado em pomares com o nome de ferrada -
Obrigada pela sua visita. Volte sempre.
Chamem-lhe o que quizerem para mim Porco é PORCO.
ResponderEliminarVoz do Goulinho
ALA Poemas
Uma curiosidade .Há pessoas na Bélgica que têm com apelido "Sus" o que significa porco em latino.
ResponderEliminarcumprimentos de Antuérpia
Olá, Lourdes!
ResponderEliminarPois, na minha terra porco também é porco mas, lá temos o "bácoro", o "cochino" que na linguagem popular é "cotchino" e vem do castelhano e o "marrano".
O "caldeiro" ou a "caldeireta" utiliza-se mais para tirar água dos poços e tem um formato mais baixo e de fundo côncavo
Cada terra com seu uso...
Abraço,
João Celorico
Para o animal ainda conheço o termo "reco" e "berrão" que se usam para os lados de Tábua e oliveira do Hospital mas também o nome "cevado". A lavagem é também o termo aplicado à essa verdadeira sopa que se cozinhava nas panelas de ferro destinadas não só aos porcos mas também por vezes às ovelhas e cabras de forma a que o leite sobrásse das crias para o queijo.
ResponderEliminarO escrupulo higiénico desta sopa era identico ao que se teria para as pessoas da casa as chamadas sobras eram os talos das aparas de hortaliça cascas de nabo, batatas abóboras e cenouras, tudo era lavado, e o que nós não gostássemos de comer cru também não era dado cru ao porco. Mas dava-se crua a fruta pequena e a que caía no chão.
Pois é
ResponderEliminarO Porco BÁcoro Suino Etc etc alimentado com as sobras das comidas que se faziam para familia, pertence ao passado
Hoje temos o porco alimentado a ração de engorda rápida e sem o mesmo gosto da carne que nos dava antigamente.
Tudo muda até o Sr Porco já tem outras formas de viver
Tendo nascido em cidade grande, só conheço mesmo o nome porco.
ResponderEliminarMas já ouvi também o termo bacorinho.
Interessante e enriquecedora essa postagem.
Beijo